Zucco divulgou uma nota oficial na qual classificou o posicionamento de Moraes como juridicamente abusivo, politicamente provocativo e institucionalmente insustentável. Segundo o líder da Oposição, o ministro desconsiderou a decisão soberana da Câmara dos Deputados, que havia deliberado sobre o caso em votação recente. Na última quarta-feira, 7 de maio, os parlamentares se posicionaram de forma contrária ao prosseguimento da denúncia contra Ramagem, entendimento que, para Zucco, deveria ter sido respeitado pelo Supremo.
A crítica do deputado gaúcho se insere em um contexto de tensão crescente entre os poderes da República, especialmente entre o Judiciário e o Legislativo. Nos bastidores de Brasília, o episódio foi interpretado como mais um capítulo da disputa por protagonismo institucional, em que decisões judiciais são vistas por parlamentares como tentativas de interferência em competências exclusivas do Congresso Nacional. A decisão de Moraes, ainda que suspenda parte do processo, mantém aberta a possibilidade de sanções futuras, o que foi interpretado como uma sinalização de que o caso segue sob o controle da Corte, mesmo após a manifestação do Parlamento.
Zucco afirmou que a Câmara não pode se tornar espectadora passiva das ações do STF, alertando para o risco de erosão democrática causado pela centralização de poder em um único órgão da República. Ele reforçou que Alexandre Ramagem foi eleito pelo voto popular e que qualquer tentativa de cassação ou criminalização de sua atuação parlamentar deve respeitar o devido processo legal e os preceitos constitucionais que garantem a autonomia do Poder Legislativo.
Aliados de Ramagem e de Zucco na bancada do PL também se pronunciaram de forma crítica, acusando o Supremo de agir com viés ideológico e de promover uma espécie de justiça seletiva contra nomes ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro. A avaliação é de que decisões como a de Moraes contribuem para o enfraquecimento da confiança nas instituições e acentuam a polarização política no país. Parlamentares mais alinhados ao governo, por sua vez, preferiram não comentar publicamente o voto do ministro, adotando uma postura de cautela diante da repercussão negativa no Congresso.
O caso de Alexandre Ramagem remonta ao turbulento período pós-eleitoral de 2022, quando setores ligados ao então presidente Bolsonaro foram acusados de tentar interferir no processo democrático. Ramagem, que à época exercia cargo de confiança na estrutura do Executivo e mantinha forte influência na área de inteligência, passou a ser investigado por supostas articulações visando minar a credibilidade do resultado das urnas. A denúncia que o coloca como réu no STF inclui acusações de participação ativa em planos para desestabilizar o governo eleito e promover um ambiente propício à ruptura institucional.
A decisão da Câmara dos Deputados de rejeitar a continuidade do processo contra Ramagem foi considerada uma vitória política do grupo bolsonarista, que viu no resultado uma reafirmação da força da sua base dentro da Casa Legislativa. No entanto, a reação de Moraes, ainda que parcial, reaqueceu os ânimos e reforçou a narrativa da oposição de que há um movimento coordenado de perseguição contra seus membros. Zucco afirmou que os parlamentares não aceitarão calados o que chamou de tentativas de subversão da ordem constitucional e que continuarão a denunciar abusos por parte do Judiciário.
Enquanto o processo contra Ramagem segue com sua tramitação suspensa apenas em parte, cresce no Congresso a pressão por mudanças no equilíbrio entre os poderes. Propostas que visam limitar as decisões monocráticas de ministros do STF, estabelecer mandatos para os magistrados e ampliar a transparência nas ações da Corte voltaram a ganhar força nas discussões internas. O episódio desta semana serviu como combustível para esses debates, que agora devem ocupar espaço central na pauta política das próximas semanas.
A relação entre os poderes, marcada por episódios de confronto nos últimos anos, parece longe de caminhar para a harmonia. As declarações de Luciano Zucco evidenciam o grau de insatisfação de uma parcela significativa do Parlamento com a atuação de ministros do Supremo, em especial de Alexandre de Moraes, que tem se consolidado como figura central nos embates institucionais mais sensíveis do atual cenário político brasileiro.