MST solicita ao governo R$ 1 bilhão para financiar assentamentos

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O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) pretende solicitar ao governo federal um investimento de R$ 1 bilhão destinado à consolidação de assentamentos em diversas regiões do Brasil. A solicitação será formalizada durante um encontro entre representantes do movimento e parlamentares, agendado para esta sexta-feira, 9 de maio, como parte da programação da Feira Nacional da Reforma Agrária. O evento, iniciado na quinta-feira, 8, ocorre em São Paulo e se estende até o domingo, dia 11, reunindo apoiadores, autoridades políticas e membros da sociedade civil em torno do tema da reforma agrária.


De acordo com informações publicadas pelo jornal Folha de S.Paulo, o valor requisitado tem como finalidade principal a aquisição de terras e a estruturação de assentamentos para milhares de famílias que atualmente vivem em áreas ocupadas pelo movimento. A coordenadora nacional do MST, Débora Nunes, afirmou que há uma “urgência em expandir os recursos para aquisição de terras e assentamento”, destacando a situação de aproximadamente 65 mil famílias que vivem em terras invadidas e aguardam regularização. Ainda segundo ela, com um orçamento de R$ 100 milhões, já seria possível assentar cerca de 4 mil famílias, o que demonstra a escala necessária do investimento pleiteado.


A Feira Nacional da Reforma Agrária tem ganhado visibilidade não apenas por seu conteúdo político, mas também pela presença de importantes figuras do governo federal. Confirmaram presença no evento o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, e três ministros: Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) e Márcio Macedo (Secretaria-Geral da Presidência). A expectativa é de que o encontro entre o MST e os representantes do poder público resulte em algum avanço nas negociações ou ao menos na formalização de compromissos.


O pedido do movimento ocorre em um momento de intensificação das ações de ocupação. Em abril, o MST promoveu uma série de invasões em diversas propriedades rurais, dentro da mobilização conhecida como “Abril Vermelho”. Ao todo, foram invadidas 35 áreas em 20 estados brasileiros, sob a justificativa de que se tratavam de propriedades improdutivas ou que não cumpriam a função social prevista na Constituição. Mesmo antes disso, entre os dias 14 e 17 de março, já haviam sido registradas 70 ações semelhantes, o que indica uma escalada nas iniciativas do grupo.


As ações de ocupação, embora gerem controvérsia e forte oposição de setores do agronegócio e de parte da opinião pública, são defendidas pelo MST como uma forma legítima de pressionar o poder público por uma reforma agrária mais efetiva. A Constituição brasileira prevê que propriedades rurais devem cumprir uma função social, o que, segundo o movimento, não tem sido fiscalizado de forma adequada. As invasões são, portanto, apresentadas como parte de uma estratégia política para acelerar a desapropriação de terras consideradas ociosas ou mal aproveitadas.


O pedido de financiamento bilionário acontece também em um contexto político delicado para o governo federal, que busca equilibrar as demandas de diferentes grupos sociais com as pressões econômicas e fiscais. O presidente Lula tem reiterado seu compromisso com a reforma agrária desde sua campanha eleitoral, mas enfrenta resistências tanto internas quanto externas para avançar com políticas públicas de grande escala nesse setor. A presença de ministros e parlamentares na feira pode ser interpretada como um gesto de aproximação e diálogo com os movimentos sociais do campo, em especial o MST, que há décadas atua na luta pela redistribuição de terras no Brasil.


Embora ainda não haja uma posição oficial do governo sobre o repasse dos R$ 1 bilhão, o evento desta sexta-feira deve trazer novos desdobramentos sobre a questão. O MST espera que o encontro com autoridades resulte em ações concretas, como a ampliação do orçamento destinado ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e a agilização de processos de desapropriação de terras. Além disso, o movimento deve continuar pressionando por políticas que garantam infraestrutura, crédito e assistência técnica para os assentamentos já existentes, além dos que poderão ser criados com eventual liberação dos recursos.


A questão fundiária no Brasil continua sendo uma das mais complexas e sensíveis, envolvendo disputas históricas, interesses econômicos, direitos sociais e debates ideológicos profundos. O pedido de financiamento por parte do MST reabre uma discussão que atravessa governos e gerações, colocando em pauta os rumos da reforma agrária no país e o papel do Estado na promoção de justiça social no campo. A resposta do governo federal nas próximas semanas poderá indicar o grau de prioridade que a atual gestão pretende dar à pauta agrária em meio aos desafios econômicos e políticos que enfrenta.

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