Freire Gomes depôs na condição de testemunha sobre a chamada minuta de intervenção federal, um documento que, segundo a acusação, teria sido redigido como parte de um suposto plano de ruptura democrática. Um dos pontos mais polêmicos levantados por Moraes foi a alegação de que o general teria, à época, cogitado prender o então presidente Jair Bolsonaro. A insinuação foi prontamente rebatida. O general afirmou com todas as letras que jamais houve qualquer voz de prisão contra Bolsonaro e que essa narrativa teria se originado de uma leitura distorcida por parte da imprensa e de interpretações políticas.
O clima na sala se agravou quando Moraes, visivelmente irritado com a negativa, sugeriu que o general estaria faltando com a verdade. O ministro afirmou que havia uma contradição entre os relatos prestados por Freire Gomes à Polícia Federal e as declarações feitas agora no STF. A fala de Moraes foi incisiva e deixou claro que via um possível caso de falso testemunho. Ao dizer que ou o general havia mentido antes ou estava mentindo agora, o ministro lançou sobre o depoente uma sombra de suspeição. As palavras do magistrado causaram um silêncio imediato na audiência, e o clima ficou ainda mais tenso.
Diante da acusação velada, Freire Gomes manteve a compostura e respondeu com serenidade. Disse com clareza que jamais mentiria, especialmente após cinquenta anos de serviços prestados ao Exército Brasileiro. Sua declaração foi firme e transmitiu segurança. Para quem acompanhava, ficou claro que o general não estava disposto a ceder à pressão, nem a aceitar ser colocado na posição de alguém que estaria enganando a Justiça. Sua resposta ressoou como um recado direto à tentativa de intimidação que muitos viram na postura adotada por Moraes.
Ao longo do depoimento, o general minimizou o valor do documento conhecido como minuta da Garantia da Lei e da Ordem, que tem sido apresentado por setores da acusação como evidência de uma articulação golpista. Segundo Freire Gomes, o texto era um rascunho, sem qualquer aplicação prática, e que nunca foi tratado como pauta oficial nas reuniões do Alto Comando. Ele reiterou que nenhuma ação concreta foi tomada com base naquele conteúdo e que o Exército não operou em nenhuma direção que apontasse para uma ruptura institucional. Essa posição contraria diretamente a narrativa que tenta vincular os militares a uma suposta conspiração para manter Bolsonaro no poder.
A condução da audiência por parte de Moraes levantou críticas nas redes sociais e entre especialistas. Para muitos, o tom adotado pelo ministro passou do limite do aceitável, transformando a oitiva de uma testemunha em um verdadeiro interrogatório com ares de acusação. A percepção de que há um ambiente de hostilidade crescente entre o Judiciário e as Forças Armadas foi reforçada, especialmente diante da forma como o general foi tratado em uma corte que deveria prezar pela imparcialidade e pelo respeito às instituições.
Freire Gomes representa uma ala das Forças Armadas que ainda conta com respeito e prestígio, inclusive entre oficiais da reserva e apoiadores do governo anterior. Sua postura durante o depoimento, ao não se curvar à pressão, foi vista como um gesto de firmeza e como um contraponto à narrativa de que os militares estariam envolvidos em um plano de subversão da ordem democrática. A negativa em relação à suposta ordem de prisão a Bolsonaro e o desprezo demonstrado pelo conteúdo da minuta reforçam a ideia de que não houve, por parte do Exército, adesão a qualquer tentativa de golpe.
O episódio foi amplamente comentado nas redes sociais, dividindo a opinião pública. De um lado, estão os que enxergam no general um exemplo de coragem e de lealdade à Constituição. De outro, aqueles que acreditam que Moraes está certo em buscar esclarecer até os mínimos detalhes de um momento delicado da história recente do país. Em meio à polarização crescente, a audiência desta segunda-feira expôs, mais uma vez, as fraturas institucionais que ainda marcam o Brasil e evidenciou que o caminho para a pacificação política está longe de ser trilhado.