O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu nesta terça-feira, 6 de maio, com ministros e autoridades do governo para discutir um plano de ressarcimento a aposentados e pensionistas prejudicados por descontos indevidos em seus benefícios. A reunião foi realizada no Palácio da Alvorada e contou com a presença do novo ministro da Previdência Social, Wolney Queiroz, e do recém-nomeado presidente do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Gilberto Waller Júnior. A pauta central do encontro foi a elaboração de medidas para garantir que os valores descontados indevidamente entre 2019 e 2024 sejam devolvidos aos beneficiários lesados.
O escândalo, que se tornou público após investigações conduzidas pela Controladoria-Geral da União (CGU) e pela Polícia Federal, revelou um esquema de descontos associativos não autorizados em aposentadorias e pensões, beneficiando entidades e sindicatos. Segundo as investigações, o valor desviado pode ultrapassar R$ 6,3 bilhões. O impacto financeiro e social da fraude gerou forte pressão sobre o governo, que agora busca mecanismos eficientes para devolver os valores aos aposentados, preservar a credibilidade do INSS e punir os responsáveis.
Além de Queiroz e Waller Júnior, participaram da reunião os ministros Rui Costa (Casa Civil), Esther Dweck (Gestão e Inovação em Serviços Públicos), Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais), Vinicius de Carvalho (Controladoria-Geral da União) e o advogado da União adjunto, Junior Divino Fideles. Juntos, eles discutiram um plano de ação articulado entre diferentes órgãos para assegurar o ressarcimento, melhorar os controles do sistema de benefícios e coibir fraudes futuras.
Uma das principais medidas em estudo é a criação de um canal exclusivo para que aposentados e pensionistas possam solicitar o reembolso de forma direta e segura. A ideia é evitar intermediários e tornar o processo mais acessível às vítimas dos descontos irregulares. Segundo fontes do governo, também está sendo considerado um modelo de responsabilidade direta para as entidades que receberam os valores indevidos, exigindo que elas assumam os custos do ressarcimento.
O plano de devolução dos recursos está sendo desenvolvido com o apoio da Advocacia-Geral da União (AGU) e da Dataprev, empresa pública responsável pelo processamento de dados da Previdência. De acordo com a AGU, o projeto já se encontra em fase final de elaboração e deve ser apresentado publicamente nos próximos dias, com previsão de implementação imediata após aprovação do presidente.
A crise no INSS também resultou em mudanças importantes na estrutura do órgão. Na última sexta-feira, 2 de maio, o então ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, pediu demissão do cargo em meio à pressão pelo escândalo. A decisão foi formalizada após uma conversa direta com Lula, que optou por substituir a liderança da pasta como forma de responder à gravidade do caso. Lupi já vinha sendo criticado pela condução do ministério e sua resistência em rever o papel do INSS na intermediação de descontos associativos.
Em resposta rápida, Lula nomeou Wolney Queiroz como novo titular da Previdência, e, dias antes, em 30 de abril, havia indicado Gilberto Waller Júnior, procurador federal da AGU, para assumir a presidência do INSS. O movimento foi interpretado como um esforço do governo para dar mais rigor técnico à gestão do órgão e reforçar a articulação jurídica nas ações de reparação aos beneficiários.
A saída de Alessandro Stefanutto da presidência do INSS, ocorrida em 23 de abril, também marcou um ponto de inflexão na crise. Ele deixou o cargo após o avanço das investigações e da operação que revelou o envolvimento de entidades fraudulentas no esquema de descontos. Desde então, o governo federal tem atuado para reorganizar o comando do instituto, restaurar a confiança dos aposentados e criar mecanismos mais transparentes e fiscalizados para a relação entre beneficiários e entidades representativas.
Enquanto o plano de ressarcimento avança nos bastidores, o governo ainda enfrenta cobranças por uma resposta mais enérgica e por mudanças estruturais no sistema de controle do INSS. Parlamentares de oposição pedem a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar responsabilidades, enquanto lideranças governistas tentam evitar uma crise política maior. A expectativa agora é que as medidas apresentadas nos próximos dias ofereçam respostas concretas aos aposentados lesados e iniciem um processo de reconstrução da credibilidade da Previdência Social brasileira.