A discussão sobre a taxação das exportações está sendo coordenada pela Casa Civil, sob o comando do ministro Rui Costa. Recentemente, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, levou representantes dos setores produtivos de carne, açúcar, etanol e biodiesel para dialogar com Rui Costa. Esse encontro deixou claro que Fávaro, se a medida for adiante, pode considerar sua demissão, uma vez que ele se posiciona contra qualquer proposta que prejudique o setor agropecuário. Além disso, o vice-presidente Geraldo Alckmin, responsável pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, também expressou sua resistência à ideia de taxação das exportações, alinhando-se a uma parte do governo que teme os impactos negativos da medida.
Economistas apontam que, embora uma possível taxação das exportações pudesse resultar em uma queda nos preços de alimentos no curto prazo, o efeito colateral seria uma diminuição da produção no médio e longo prazos. Isso se daria devido ao desestímulo que a medida causaria aos produtores, comprometendo a oferta e gerando uma inflação ainda mais elevada no futuro, especialmente no ciclo de safra seguinte. Assessores de Fávaro revelam que o ministro tem se mobilizado para evitar que o governo adote medidas consideradas precipitadas, apelidadas dentro do PT de “comércio administrado”, uma estratégia que tem gerado desconfiança tanto dentro do governo quanto entre o setor produtivo.
O tema começou a ser discutido no Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, comandado por Paulo Teixeira, mas a pasta nega qualquer movimento em direção à adoção de uma política de taxação. A expectativa de Fávaro e seus aliados é que o setor produtivo consiga influenciar o presidente Lula a abandonar essas propostas, que são vistas como arriscadas e potencialmente prejudiciais para a economia.
Em paralelo, outros setores do governo defendem alternativas para lidar com a inflação alimentar. A ideia seria aguardar os resultados da supercolheita de grãos prevista para os próximos meses, além de preparar um novo Plano Safra para 2025 e 2026. Alguns aliados de Fávaro sugerem ainda que o governo poderia zerar as taxas de importação de alimentos, o que enfrentaria resistência dentro do Ministério da Fazenda, comandado por Fernando Haddad.
Fávaro, em conversas internas, tem deixado claro que não aceitará qualquer medida que prejudique os setores produtivos de soja, milho, carne e etanol, setores chave para a economia nacional. A definição sobre qualquer ação a ser tomada deve ocorrer apenas após o Carnaval, quando o governo terá mais clareza sobre as consequências das suas decisões. A pressão sobre o governo foi tão forte que Rui Costa, em uma entrevista recente, reconheceu a necessidade de um diálogo mais próximo com o setor produtivo para evitar danos à popularidade do governo. O ministro da Casa Civil destacou que as altas nos preços dos alimentos mexem diretamente com a opinião pública e, por isso, é necessário um ajuste cuidadoso nas políticas adotadas.
A proposta de taxação das exportações ganhou força após um projeto apresentado por aliados de Lula no Congresso, incluindo o PSOL, que busca impedir a possibilidade de imposto zero sobre as exportações. O projeto prevê ainda um reajuste mensal das alíquotas de exportação com base na inflação dos alimentos no mercado interno. A ideia é garantir que parte da produção seja destinada ao mercado interno, evitando desabastecimento e inflação descontrolada. Essa proposta, no entanto, é vista por muitos como uma medida intervencionista que pode causar um aumento dos preços dos alimentos a médio e longo prazo, afetando ainda mais a economia.
Na semana passada, a deputada Gleisi Hoffmann, ministra de Relações Institucionais, reafirmou que o aumento nos preços dos alimentos é a principal preocupação de Lula no momento. Para ela, a inflação dos alimentos foi causada por uma combinação de especulação do mercado financeiro, aumento das exportações e problemas climáticos. As críticas do governo à especulação e aos altos preços são vistas por alguns como uma tentativa de justificar as dificuldades econômicas atuais.
Por outro lado, a bancada ruralista no Congresso tem reagido com firmeza contra as propostas de taxação das exportações. Líderes do setor agropecuário, como o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Pedro Lupion, criticaram a ideia, chamando-a de “desesperada e mal pensada”. Lupion argumenta que o governo está ignorando problemas macroeconômicos mais amplos, como o controle inflacionário e a desconfiança do mercado, e vê a proposta de taxação como uma solução inadequada. A senadora Tereza Cristina, ex-ministra da Agricultura, também se posicionou contra, afirmando que a medida é uma afronta ao setor agropecuário, que considera fundamental para a segurança alimentar do Brasil.
Assim, o governo Lula se vê diante de uma crise de identidade e de interesses, com uma proposta econômica que divide as opiniões tanto internamente quanto entre os diversos setores da sociedade. A decisão sobre o rumo a ser tomado será crucial para o futuro político e econômico do país.