Os primeiros pedidos de impeachment vieram dos deputados federais Carlos Jordy (PL-RJ) e Jorge Goetten (Republicanos), que alegaram crimes de responsabilidade, improbidade administrativa e até mesmo corrupção passiva. Jordy, em sua representação, questionou a legalidade da contratação de Menezes e destacou que ela poderia estar violando princípios constitucionais, como a moralidade e a impessoalidade. Para ele, os valores repassados pelo governo da Bahia e pelas prefeituras de Salvador e Fortaleza precisam ser investigados de forma aprofundada.
Em sua representação ao Tribunal de Contas da União (TCU), Jordy solicitou que fosse apurado se houve uso indevido de recursos públicos, suspeita de conflito de interesse e eventual fraude em licitações. Ele também questionou a mudança de entendimento da Comissão de Ética Pública, que autorizou os shows pagos por entes públicos, algo que antes era vedado. A decisão da Comissão, que permitiu a realização de shows por artistas em cargos públicos com recursos de estados e municípios, foi alvo de críticas. O deputado solicitou ainda uma investigação sobre a legalidade dessa alteração e sobre a participação de Menezes na definição dessas novas normas.
Além disso, a deputada Adriana Ventura (Novo-SP) também se manifestou, apresentando um requerimento para que a ministra preste esclarecimentos sobre os valores pagos a ela durante o Carnaval, detalhando a origem dos recursos, bem como os contratos com as prefeituras e os detalhes das contratações realizadas pelo governo federal para eventos culturais. Ventura frisou a necessidade de transparência sobre os valores e a legalidade dos repasses realizados a Menezes, além de questionar a atuação da Comissão de Ética e a aplicação das leis de incentivo à cultura, como a Lei Rouanet.
Outro parlamentar, Jorge Goetten, além de pedir explicações à ministra, exigiu que a Comissão de Ética Pública da Presidência da República esclarecesse se a decisão sobre os shows pagos por recursos estaduais e municipais também se aplicava a outros ministros do governo. Goetten também solicitou uma investigação dos Ministérios Públicos da Bahia e do Ceará, para apurar a origem exata dos pagamentos feitos pelas prefeituras de Salvador e Fortaleza para a cantora.
A polêmica ganhou novos contornos quando a coluna Metrópoles revelou que a cantora, além de ser ministra da Cultura, realizou sete shows entre 27 de fevereiro e 4 de março, em Salvador e Fortaleza. Três desses shows foram financiados pelas prefeituras dessas cidades, com um total de R$ 640 mil pagos. A cantora também recebeu recursos do governo da Bahia, além de ter feito uma apresentação privada. A informação de que as prefeituras contrataram a ministra para apresentações em pleno cargo público causou surpresa, uma vez que, em março de 2023, a Comissão de Ética Pública havia determinado que a ministra se abstivesse de receber pagamentos públicos. A decisão foi reformada posteriormente, o que gerou ainda mais questionamentos sobre o processo.
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Em sua defesa, a assessoria de Margareth Menezes afirmou que a artista foi autorizada pela Comissão de Ética a realizar shows para entidades públicas, desde que os recursos não fossem federais. A nota ainda ressaltou que os shows ocorreram fora do horário de trabalho da ministra, garantindo que suas responsabilidades não foram afetadas. A assessoria também destacou a relevância de Margareth no cenário cultural brasileiro, principalmente no movimento do Axé, e justificou os cachês pagos pelas prefeituras e os custos de deslocamento e hospedagem como normais para apresentações desse porte.
Contudo, a justificativa não afastou os questionamentos. Para os críticos, a participação de uma ministra da Cultura em eventos pagos com recursos públicos coloca em xeque a moralidade e a transparência na gestão pública. Em um cenário de apuração de possíveis irregularidades, o governo e a ministra podem enfrentar uma pressão crescente, principalmente em um momento em que as instituições que tratam da ética no serviço público estão sendo desafiadas. As investigações que envolvem o uso de recursos públicos para o pagamento dos shows, o papel da Comissão de Ética na liberação dessas contratações e a transparência nas contas públicas serão fundamentais para esclarecer a situação.