A análise da The Economist destacou que o STF foi responsável por medidas que impactaram negativamente o cenário democrático do país, incluindo a interrupção temporária da rede social X durante as eleições de 2024. O ato, sem precedentes entre países democráticos, foi criticado pela revista, que o viu como uma violação da liberdade de expressão. O STF também foi apontado por ameaçar impor multas a usuários de VPNs, o que aumentou ainda mais as críticas em relação à sua atuação.
Além disso, o estudo observou que as investigações conduzidas pelo STF desde 2019, relacionadas a desinformações e ataques às instituições democráticas, contribuíram para a queda do Brasil no ranking. Em particular, a investigação sobre a tentativa de golpe de Estado em 2022, envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros 33 denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR), foi apontada como um fator adicional que prejudicou a pontuação do Brasil. Essa investigação continua sendo um dos temas mais sensíveis no país, com desdobramentos que envolvem figuras de destaque e a própria estabilidade do sistema democrático.
A publicação também destacou a postura crítica dos militares brasileiros em relação ao governo civil, um legado do período militar que ainda se reflete nas atitudes atuais. A presença dessa mentalidade no cenário político também foi mencionada como uma preocupação, já que ela colabora para um ambiente de maior polarização política e uma "preocupante tolerância à violência política". O episódio envolvendo o suicídio de Brasília em novembro de 2024, que chocou a nação, também foi citado como um reflexo da crescente tensão política no Brasil e um fator que impactou a percepção internacional sobre a estabilidade democrática do país.
As categorias de "liberdades civis" e "funcionamento de governo" apresentaram quedas significativas, refletindo o enfraquecimento das instituições democráticas no Brasil. A revista avaliou que a polarização crescente no país tem levado à politização de instituições, além de intensificar a violência política, com episódios frequentes de ataques a opositores e um aumento da intolerância nas disputas eleitorais. Embora o Brasil tenha mantido uma boa pontuação em "processo eleitoral", a questão da interferência do STF na política foi vista como um agravante para o cenário político, dado que a instituição, em algumas ocasiões, tem sido acusada de influenciar decisões políticas e ampliar a polarização.
Além disso, a pesquisa Latinobarómetro de 2024 revelou que a liberdade de expressão no Brasil está sendo cada vez mais cerceada. O estudo mostrou que 64% dos brasileiros acreditam que a liberdade de expressão não é devidamente assegurada no país, e 62% hesitam em manifestar suas opiniões. Esses dados refletem um cenário de crescente repressão à liberdade de fala e uma atmosfera de medo sobre as consequências de se posicionar politicamente.
Especialistas em Direito, como Márcio Nunes, alertaram sobre os efeitos negativos dessa interferência do STF nas esferas políticas do país. Para ele, essa postura do Supremo pode estar exacerbando a polarização e prejudicando a democracia ao enfraquecer os mecanismos de freios e contrapesos entre os poderes. O especialista em Direito Internacional, Luiz Augusto Módolo, também criticou a postura contraditória do STF e do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que se apresentam como defensores da democracia, mas, ao mesmo tempo, interferem no funcionamento das instituições e da política.
Módolo mencionou que, ao longo dos últimos anos, a palavra "democracia" tem sido constantemente invocada por figuras políticas e pela mídia, mas, paradoxalmente, o Brasil tem se tornado uma democracia mais frágil. Ele citou o desmantelamento da operação Lava Jato e o tratamento dado a opositores políticos como exemplos de ações que enfraquecem a confiança nas instituições democráticas.
Com a queda no Índice de Democracia e os desdobramentos dessas investigações, a situação política no Brasil se torna cada vez mais complexa. A crescente polarização, as críticas à atuação do STF e a repressão à liberdade de expressão são fatores que podem impactar a estabilidade política e social do país nos próximos anos. O Brasil, embora ainda mantenha uma democracia funcional em algumas áreas, enfrenta desafios consideráveis para restaurar a confiança nas suas instituições e garantir que a liberdade política e os direitos civis sejam plenamente respeitados.