Após o colapso, Milei apagou a publicação e tentou se distanciar do ocorrido, afirmando que não tinha conhecimento dos “pormenores” do projeto. No entanto, o CEO da empresa responsável pela Libra, Julian Kip, já havia sido recebido por Milei em outubro do ano passado na Casa Rosada, o que gerou questionamentos sobre o grau de envolvimento do presidente com a iniciativa. Além disso, análises de especialistas revelaram que cerca de 80% dos tokens da criptomoeda estavam concentrados em apenas cinco carteiras, o que é característico de esquemas fraudulentos conhecidos como “rug pull”, onde os responsáveis pela moeda retiram grandes quantias de dinheiro, deixando os investidores no prejuízo.
A Libra é uma memecoin, uma criptomoeda sem lastro no mercado real e que depende de uma adesão momentânea e especulativa para valorizar. Casos semelhantes ocorreram no passado, como o lançamento de uma criptomoeda associada ao ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que em janeiro deste ano atingiu uma capitalização de mercado de 6 bilhões de dólares, antes de desvalorizar drasticamente.
O colapso da Libra gerou uma onda de indignação entre a oposição política na Argentina. O deputado Esteban Paulon anunciou que apresentaria um pedido de impeachment contra Milei, acusando-o de envolvimento direto em um esquema fraudulento, apelidando-o de “Javo Ponzi”. Outros membros do Congresso exigiram que o chefe de gabinete, Guillermo Francos, fosse convocado para explicar o papel do presidente no episódio. A reação da oposição foi rápida e contundente, destacando que o envolvimento de Milei com o projeto poderia caracterizar uma forma de golpe financeiro.
Além das críticas políticas, especialistas em criptomoedas também levantaram sérias questões sobre a integridade do projeto. O comportamento do mercado em relação à Libra seguiu um padrão típico de fraudes em criptoativos, nas quais um grupo restrito de investidores pode se beneficiar inicialmente, enquanto a maior parte dos investidores comuns sofre grandes perdas. De acordo com fontes do setor, investidores informados podem ter lucrado até 60 milhões de dólares com a movimentação inicial da moeda.
Enquanto isso, as autoridades argentinas começam a analisar a situação. A Comissão Nacional de Valores (CNV) e o Banco Central da Argentina estão investigando as possíveis implicações legais do caso. Especialistas alertam para o risco crescente de projetos de criptomoedas que, embora possam ser apresentados como soluções inovadoras, na prática se configuram como esquemas especulativos e potencialmente fraudulentos. O episódio com a Libra é visto como mais um exemplo da vulnerabilidade do mercado de criptomoedas, especialmente em um contexto de pouca regulação e transparência.
O governo de Milei, por sua vez, ainda tenta minimizar as consequências do colapso da Libra, enquanto a crise política se agrava. A oposição, que já havia criticado a postura do presidente em relação a outras questões econômicas, agora vê a situação como uma oportunidade para desafiar sua administração. A investigação sobre o caso pode revelar mais detalhes sobre o grau de envolvimento de Milei e seus aliados nesse projeto, o que pode ter repercussões políticas e jurídicas significativas.
O episódio também serve de alerta para o mercado financeiro e para os investidores em criptomoedas, mostrando os riscos associados a projetos sem regulamentação e com promessas de ganhos rápidos. Com o colapso da Libra, muitos argentinos agora questionam a seriedade das propostas de Milei em relação a outras áreas da economia. A pressão sobre o governo deve aumentar nos próximos dias, enquanto o país se recupera dos danos causados por mais um episódio de volatilidade e especulação no setor financeiro.