As entidades representativas dos produtores de arroz do Rio Grande do Sul, a Federação das Associações de Arrozeiros (Federarroz) e a Federação da Agricultura do Estado (Farsul), acusaram a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) de superestimar os dados da safra de arroz de 2025. Segundo nota conjunta divulgada pelas organizações, o órgão teria inflado os números para interferir nos preços do cereal, gerando confusão no mercado e afetando negativamente os produtores e consumidores.
De acordo com os dados apresentados pela Conab, a área plantada de arroz no Brasil teria registrado um aumento de 9,7% em comparação ao ano anterior. Porém, as federações questionam essa estimativa, afirmando que os números reais indicam um crescimento muito menor, na ordem de 2,69%, conforme levantamento realizado pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (IRGA). Na nota, as entidades destacam que essa discrepância pode gerar um impacto financeiro bilionário e comprometer a credibilidade das informações sobre o setor agrícola.
As federações também garantiram que, apesar das divergências nos dados, não há risco de desabastecimento no mercado interno, já que a produção nacional de arroz continua excedendo a demanda. "Como de costume, produziremos bem mais do que os brasileiros consomem, o que nos obrigará a exportar os excedentes", afirmaram no comunicado. No entanto, alertaram que a divulgação de informações imprecisas pode desestabilizar o setor e gerar prejuízos econômicos.
Em resposta, a Conab negou as acusações e afirmou que seus dados são baseados em critérios técnicos rigorosos. Em nota oficial, o órgão ressaltou que os números divulgados refletem a expectativa de produção calculada até o mês anterior à publicação do relatório. Além disso, anunciou que equipes técnicas retornarão ao campo na próxima semana para atualizar os dados, que serão incluídos no próximo relatório mensal.
A Conab também destacou seus esforços para aprimorar a precisão das informações por meio de parcerias estratégicas com instituições como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O uso de imagens de satélite no monitoramento da área plantada no Rio Grande do Sul foi citado como uma das iniciativas para garantir maior confiabilidade e reduzir possíveis inconsistências.
O embate atual é apenas mais um capítulo das divergências entre os produtores de arroz gaúchos e a Conab. Em 2024, o governo enfrentou críticas semelhantes quando tentou realizar um leilão de arroz para controlar os preços do grão. A iniciativa gerou grande insatisfação no setor e acabou sendo cancelada após denúncias de irregularidades no processo.
A questão do preço do arroz é sensível, especialmente em um contexto de inflação alimentar. O cereal é um item básico na dieta dos brasileiros, e qualquer flutuação nos valores impacta diretamente o custo de vida da população. Por outro lado, os produtores argumentam que políticas de intervenção no mercado, baseadas em dados imprecisos, podem desestimular o cultivo e comprometer a sustentabilidade do setor a longo prazo.
Além disso, o episódio revela um dilema frequente no setor agrícola brasileiro: a tensão entre as demandas do mercado e as ações do governo para regular preços e garantir o abastecimento. Para os produtores, é essencial que as estimativas sejam feitas com base em levantamentos precisos e transparentes, evitando distorções que possam prejudicar a dinâmica do mercado.
Enquanto as divergências permanecem, especialistas alertam para a importância de um diálogo mais próximo entre os agentes envolvidos, incluindo produtores, instituições de pesquisa e o governo. A adoção de tecnologias avançadas, como o uso de imagens de satélite e sistemas de monitoramento em tempo real, é vista como uma solução promissora para reduzir discrepâncias nos dados e aumentar a eficiência no planejamento da produção agrícola.
O arroz, como um dos principais produtos da agroindústria brasileira, desempenha um papel estratégico tanto no mercado interno quanto no comércio internacional. O Brasil é um dos maiores exportadores globais do grão, e qualquer instabilidade no setor pode ter repercussões econômicas significativas.
Enquanto isso, o mercado segue atento às próximas ações da Conab e à atualização dos dados previstos para fevereiro. A expectativa é que os novos levantamentos tragam maior clareza sobre a safra de 2025, permitindo um planejamento mais eficaz e reduzindo os atritos entre governo e produtores. A disputa, porém, reforça a necessidade de maior transparência e confiança mútua para garantir o equilíbrio entre os interesses públicos e privados no agronegócio.