O INPC reflete mais precisamente a realidade de famílias com orçamento mais restrito, já que esse indicador dá maior peso a itens essenciais, como alimentação. Em um orçamento familiar onde a maior parte da renda é destinada à compra de alimentos, qualquer aumento nos preços desses produtos tem um impacto direto no dia a dia. O economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), explica que a inflação de alimentos atinge as famílias de baixa renda de forma mais acentuada, uma vez que essas famílias dedicam uma parte maior do seu orçamento a itens alimentares, ao contrário das famílias de maior poder aquisitivo, que gastam mais com serviços e outros bens de consumo.
Em 2024, o aumento dos preços de itens alimentícios no Brasil foi puxado pela alta no preço da carne, como a picanha, e outros produtos consumidos regularmente pelas famílias de classe média e baixa. O aumento das exportações de produtos agrícolas, impulsionado pela desvalorização do real frente ao dólar, tem favorecido o mercado externo, tornando o preço desses produtos mais alto no Brasil. Com a moeda brasileira mais fraca, os produtores brasileiros encontram uma vantagem em exportar, o que gera uma diminuição na oferta interna e eleva os preços dos produtos, afetando diretamente o bolso dos consumidores.
A variação cambial tem sido um dos fatores mais notáveis para o aumento dos preços no país. A desvalorização do real em relação ao dólar, que se intensificou a partir de novembro de 2024, contribuiu para a elevação no custo de alimentos e outros produtos. Para as famílias mais vulneráveis, isso significa que o aumento nos preços dos produtos básicos prejudica ainda mais o orçamento, sem que a correção salarial acompanhe de forma proporcional o aumento dos custos.
A inflação, especialmente a de alimentos, tem sido um dos principais fatores na avaliação negativa do governo atual. Muitos brasileiros têm enfrentado dificuldades para suprir as necessidades alimentares básicas, o que agrava ainda mais a situação de quem já vive com orçamento apertado. A dificuldade em fazer as compras do mês e a insegurança alimentar têm gerado um impacto psicológico nas famílias de baixa renda, que sentem a pressão constante para equilibrar as contas.
Embora o INPC tenha registrado uma inflação geral de 4,77% em 2024, o aumento de alimentos teve um impacto muito maior para as famílias com rendimentos mais baixos, já que elas consomem uma parte significativa da sua renda com a compra de alimentos. O subgrupo de alimentação no domicílio, com alta de 8,02%, representou um dos maiores desafios econômicos para essa parcela da população.
A perspectiva para 2025 é de que os preços dos alimentos possam continuar altos, principalmente se o dólar seguir em um patamar elevado, o que pressionaria os custos internos. Além disso, a política de incentivos à exportação, que beneficia os produtores, pode continuar a criar um cenário de escassez interna de certos alimentos, aumentando ainda mais os preços para os consumidores brasileiros. Isso coloca uma pressão adicional sobre as políticas públicas e sobre as medidas que o governo deve adotar para mitigar o impacto da inflação sobre as classes mais vulneráveis.
Em suma, o aumento nos preços dos alimentos no Brasil tem sido um dos principais desafios econômicos para as famílias de baixa renda, dificultando ainda mais o acesso a itens básicos e comprometendo o poder de compra de uma grande parte da população. O cenário atual exige atenção das autoridades e medidas eficazes para garantir que as famílias mais vulneráveis possam enfrentar a inflação e o custo de vida de maneira mais justa e equilibrada.