Em um movimento que promete agitar o cenário político nacional, trinta e seis deputados de cinco partidos da base governista assinaram um pedido de impeachment contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A solicitação, que será protocolada na Câmara dos Deputados na próxima semana, surge após o Tribunal de Contas da União apontar supostas irregularidades no programa Pé-de-Meia, uma das principais apostas do governo na área da educação.
Os parlamentares que endossam o pedido são filiados ao MDB, União Brasil, PSD, Republicanos e PP, partidos que, embora integrem a base do governo, possuem setores mais alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Além desses, a oposição também conta com apoio de deputados do PL, Cidadania, Podemos, Novo e PRD, totalizando, até o momento, 117 assinaturas.
O pedido de impeachment foi elaborado pelo deputado Rodolfo Nogueira, do PL, e ganhou força após o TCU bloquear bilhões de reais destinados ao Pé-de-Meia. O programa tem como objetivo fornecer um incentivo financeiro a estudantes do ensino médio cadastrados no CadÚnico, funcionando como uma espécie de poupança para evitar a evasão escolar de jovens em situação de vulnerabilidade. No entanto, opositores alegam que os recursos utilizados não estavam previstos em lei, configurando uma “pedalada fiscal”, argumento semelhante ao que fundamentou o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff em 2016.
Marcel Van Hattem, deputado do Novo, comparou a situação com o caso de Dilma e defendeu que há “claros motivos” para a destituição de Lula. Para ele, o uso de recursos sem previsão orçamentária fere a legislação e deveria levar a manifestações populares. O deputado Sanderson, do PL, reforçou essa narrativa, apontando que o suposto desvio chega a R$ 3 bilhões.
A lista de deputados que assinaram o pedido inclui nomes influentes dentro de suas siglas. No PSD, destacam-se Sargento Fahur, Rodrigo Estacho, Ismael dos Santos e Stefano Aguiar. No PP, figuram Evair Vieira de Melo, Delegado Fabio Costa e Clarissa Tércio, entre outros. O União Brasil lidera em adesões, com 16 parlamentares, incluindo Kim Kataguiri, Rosangela Moro e Felipe Francischini. No Republicanos, três deputados assinaram, enquanto o MDB contribuiu com cinco nomes, incluindo Osmar Terra e Simone Marquetto.
A movimentação causou mal-estar no Palácio do Planalto, já que esses partidos possuem ministros no governo. O União Brasil, por exemplo, comanda as pastas das Comunicações, do Turismo e do Desenvolvimento Regional, enquanto o PSD ocupa os ministérios de Minas e Energia, Agricultura e Pesca. O MDB, por sua vez, está à frente dos Transportes, Cidades e Planejamento. O PP detém o Ministério do Esporte e o Republicanos lidera Portos e Aeroportos. Nos bastidores, há expectativa de que Lula cobre explicações dos presidentes dessas legendas e exija um posicionamento mais claro.
O governo, por sua vez, nega qualquer irregularidade no programa Pé-de-Meia e acusa a oposição de agir com interesses políticos. Segundo interlocutores do Planalto, o TCU apenas recomendou ajustes técnicos na execução do programa, sem apontar crime de responsabilidade que justificasse um impeachment. Além disso, aliados do presidente afirmam que o pedido não tem chances de prosperar, já que precisa do aval do presidente da Câmara, Arthur Lira, que até o momento não indicou disposição para levar adiante a questão.
Mesmo com a resistência do governo, a oposição pretende usar o episódio para desgastar a imagem de Lula e mobilizar suas bases. Convocando manifestações e reforçando o discurso de que o presidente estaria cometendo irregularidades fiscais, adversários políticos tentam repetir a estratégia adotada contra Dilma Rousseff. A diferença, segundo especialistas, é que Lula ainda conta com forte apoio no Congresso, especialmente dentro do PT e partidos mais alinhados à esquerda.
Diante desse cenário, o Planalto deve intensificar as negociações para conter eventuais dissidências e evitar que novos parlamentares da base se juntem ao movimento. A estratégia envolve concessão de emendas parlamentares, oferta de cargos e reforço na articulação política para garantir que os líderes partidários mantenham a fidelidade ao governo.
Ainda assim, a situação reflete um momento de instabilidade na coalizão governista e evidencia as dificuldades de Lula em lidar com uma base heterogênea, onde convivem tanto apoiadores quanto opositores camuflados. O desfecho do pedido de impeachment dependerá não apenas da aceitação formal da denúncia, mas também do jogo político que se desenrola nos bastidores do Congresso.
Enquanto isso, a oposição segue apostando no enfraquecimento da governabilidade de Lula e na criação de um ambiente favorável para uma nova crise política. Com um Congresso cada vez mais fragmentado e partidos buscando ampliar seu poder de barganha, a relação entre o Planalto e seus aliados continuará sendo testada nos próximos meses.