Com a aprovação desmoronando, Planalto segue tentando desviar a responsabilidade

Caio Tomahawk

 

A pesquisa divulgada nesta segunda-feira pela Quaest trouxe os piores índices de aprovação do governo federal desde o início do atual mandato, intensificando a pressão sobre o Planalto. Os números são claros: 49% dos entrevistados desaprovam a gestão, enquanto 47% ainda a apoiam, representando uma queda significativa em relação à pesquisa anterior, quando a aprovação era de 52%. Além disso, o número de pessoas que consideram o governo "ruim ou péssimo" subiu de 31% para 37%, consolidando a percepção de insatisfação crescente.

A principal razão apontada para essa queda na popularidade foi a polêmica envolvendo a tentativa de monitorar transações do Pix acima de R$ 5 mil. Apesar de o governo afirmar que as críticas foram baseadas em “fake news”, a pesquisa revela que 11% dos entrevistados identificaram essa medida como a pior decisão recente da gestão. Essa insatisfação ganhou força especialmente após a ampla repercussão de vídeos e comentários nas redes sociais, como os do deputado Nikolas Ferreira, que viralizaram expondo a questão.

Diante da repercussão negativa, o governo recuou e revogou a normativa. Robinson Barreirinhas, secretário da Receita Federal, declarou que a decisão foi tomada mesmo com a justificativa de que "estava tudo correto". No entanto, a contradição implícita na fala apenas aumentou as críticas sobre a condução da política fiscal e a capacidade de comunicação do governo. A reação pública demonstrou que o desgaste não se trata de desinformação, mas de uma insatisfação legítima com medidas consideradas invasivas.

Em resposta à crise, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom) lançou uma campanha publicitária de R$ 50 milhões para reforçar a imagem do Pix como “seguro, sigiloso e sem taxas”. A iniciativa, porém, foi vista como uma tentativa de desviar o foco das críticas e reconstruir a narrativa governamental. Para muitos, a ação não resolve o problema central, que é a desconfiança crescente em relação às políticas do governo.

Essa não é a primeira vez que o governo enfrenta dificuldades para lidar com as críticas. A estratégia de culpar "fake news" pelas reações negativas tem sido recorrente, mas seu impacto parece estar diminuindo. A pesquisa da Quaest reforça que as insatisfações populares têm raízes em problemas concretos, como a percepção de interferência na privacidade financeira dos cidadãos. Esse contexto também evidencia uma dificuldade maior em estabelecer uma conexão de confiança com a população.

O episódio ainda revelou um desgaste político mais amplo. O governo tem enfrentado oposição crescente no Congresso, com pautas como o impeachment do presidente e críticas à condução econômica ganhando força entre parlamentares e setores da sociedade. Além disso, a pesquisa sugere que a comunicação institucional falha em transmitir confiança e transparência, o que agrava a percepção de instabilidade.

Por outro lado, o governo busca apoio em setores específicos da sociedade e no fortalecimento de sua base aliada para minimizar os danos políticos. A campanha de valorização do Pix é apenas um exemplo das tentativas de reconstruir a narrativa governamental. Ainda assim, especialistas alertam que, sem uma mudança real nas políticas públicas e no diálogo com a população, os esforços de comunicação podem ser insuficientes para reverter o quadro atual.

O impacto da crise também tem reflexos econômicos. A insegurança gerada por medidas polêmicas afeta a confiança do mercado, especialmente em um cenário de recuperação econômica ainda frágil. Além disso, o desgaste político pode dificultar a aprovação de reformas importantes no Congresso, ampliando os desafios do governo nos próximos meses.

Com a popularidade em queda, o governo enfrenta um dilema. Enquanto tenta reconstruir sua imagem pública, precisa lidar com uma oposição fortalecida e com a pressão popular por medidas mais transparentes e eficazes. A pesquisa da Quaest é um sinal claro de que os desafios para o Planalto vão além da comunicação: envolvem a necessidade de ações concretas que atendam às demandas da população.

Neste momento, o Planalto tem diante de si a oportunidade de reavaliar suas prioridades e estratégias. O caminho para reconquistar a confiança popular exige não apenas uma narrativa mais convincente, mas também ações que reflitam o compromisso com os interesses dos cidadãos. Caso contrário, a tendência de queda nos índices de aprovação pode se consolidar, dificultando ainda mais a governabilidade nos próximos anos.


#buttons=(Accept !) #days=(20)

Nosso site usa cookies para melhorar sua experiência. Check Now
Accept !