Janja e Moraes viajam juntos em voo da FAB

LIGA DAS NOTÍCIAS

No dia 13 de junho, uma sexta-feira, um voo da Força Aérea Brasileira com destino a São Paulo reuniu personagens centrais da atual cena política nacional. A bordo da aeronave, que decolou da Base Aérea de Brasília às 9h15 e pousou no Aeroporto de Congonhas às 10h50, estavam o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, a primeira-dama Janja da Silva e o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski. O voo foi requisitado oficialmente por Lewandowski, que embarcou acompanhado por seguranças e por sua colega de profissão e esposa do ministro Moraes, Viviane Barci. Ao todo, 12 passageiros foram transportados, segundo registros oficiais.


A presença de Janja da Silva no voo, ainda que justificada por sua assessoria como um “aproveitamento de carona” em um deslocamento já agendado pelo Ministério da Justiça, gerou polêmica nas redes sociais e levantou questionamentos sobre o limite entre o institucional e o pessoal quando se trata de figuras públicas em cargos de alto escalão. Segundo nota divulgada pela equipe da primeira-dama, a viagem teve motivação particular. Janja, segundo a assessoria, aproveitou a viagem oficial dos ministros para comparecer a uma consulta ginecológica já marcada em São Paulo. A equipe afirmou que não houve qualquer custo adicional à União, uma vez que o voo já estava previamente requisitado por Lewandowski.


O episódio ganhou notoriedade após imagens do desembarque dos passageiros em Congonhas serem divulgadas pela imprensa. Nas fotos, é possível ver Janja, Moraes e Lewandowski caminhando lado a lado ao deixarem a aeronave. A assessoria de comunicação do STF e o próprio Ministério da Justiça optaram por não comentar oficialmente a presença de Alexandre de Moraes no voo, mas a participação do ministro foi confirmada de forma indireta pela equipe da primeira-dama. O silêncio institucional aumentou a repercussão do caso, alimentando especulações e críticas por parte de figuras da oposição.


Um dos primeiros a se manifestar sobre o assunto foi o deputado federal Nikolas Ferreira, um dos parlamentares mais ativos nas redes sociais em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro. Por meio da plataforma X (antigo Twitter), Nikolas questionou a moralidade do encontro e sugeriu parcialidade do ministro do Supremo em processos que envolvem o ex-presidente. Em sua publicação, afirmou que Moraes não teve sequer o cuidado de disfarçar a proximidade com a esposa de Lula, em um momento em que o país ainda lida com os desdobramentos dos processos judiciais envolvendo Bolsonaro. “O nível de imoralidade e de parcialidade demonstrado por esse senhor não tem limites”, escreveu o deputado, que também levantou dúvidas sobre o tipo de conversas que teriam ocorrido entre os dois durante o voo.


A crítica de Nikolas encontra eco em setores da sociedade que há tempos apontam para uma suposta politização das decisões tomadas pelo STF, especialmente em processos que envolvem figuras ligadas à direita. Alexandre de Moraes, que atua como relator de várias ações contra aliados e ex-integrantes do governo Bolsonaro, se tornou um dos principais alvos da base bolsonarista. A viagem ao lado de Janja, mesmo em caráter não oficial, reforçou entre os críticos a ideia de proximidade entre o Judiciário e o Executivo, percepção que vem sendo combatida pelas instituições com argumentos de legalidade e necessidade de colaboração entre os Poderes.


Por outro lado, aliados do governo minimizaram a controvérsia e afirmaram que não há qualquer ilegalidade no episódio. Segundo interlocutores ligados ao Palácio do Planalto, é comum que voos da FAB sejam utilizados por autoridades em deslocamentos oficiais ou, em alguns casos, para atender emergências médicas ou compromissos pessoais desde que previamente autorizados e sem custos extras ao erário. Ressaltam ainda que a primeira-dama não tem agenda pública própria, mas participa de eventos em nome do presidente da República, o que justificaria o uso ocasional de recursos logísticos do Estado, desde que dentro da legalidade.


Apesar das justificativas apresentadas, o episódio ocorre em um momento de crescente desgaste institucional e de tensão entre os Poderes. O julgamento de aliados de Bolsonaro, a polarização no Congresso Nacional e a insatisfação de parte da população com decisões do Judiciário contribuem para um cenário de desconfiança. A imagem de uma figura chave do Supremo dividindo o mesmo voo com a esposa do presidente, por mais que tecnicamente justificada, acaba alimentando a narrativa de que as instituições não estão sendo imparciais.


O caso ainda pode ter novos desdobramentos. Parlamentares da oposição já indicaram que pretendem acionar órgãos de controle e fiscalização, como o Tribunal de Contas da União, para verificar se houve irregularidades no uso da aeronave da FAB. Até o momento, o governo evita comentar o episódio publicamente, enquanto o silêncio das instituições envolvidas apenas aumenta o espaço para especulações e desconfiança.


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