Segundo o ex-ministro da Justiça, o caso já é um dos maiores atentados recentes contra os mais vulneráveis da sociedade brasileira. Mesmo com evidências robustas, investigações jornalísticas e alertas internos emitidos desde 2023, ninguém foi preso até o momento. Para ele, a impunidade é sintoma direto de um sistema enfraquecido pelas decisões da atual gestão, que teria desmontado os mecanismos de combate à corrupção implementados nos últimos anos. Moro afirma que hoje é praticamente impossível ver corruptos sendo punidos, mesmo em situações escancaradas, porque o governo atua para proteger seus aliados e manter intocável o núcleo político do poder.
Entre as denúncias mais graves feitas por Sérgio Moro está a omissão do próprio Ministério da Previdência, que, segundo ele, foi formalmente alertado sobre as fraudes há quase dois anos. Ainda assim, nenhuma medida concreta foi tomada. Os alertas ignorados permitiram que o esquema se ampliasse e atingisse milhões de segurados em todo o país, muitos dos quais foram vítimas de descontos indevidos em seus benefícios. Em vez de agir com rapidez, o ministério teria permitido que a estrutura fraudulenta se enraizasse ainda mais, prejudicando principalmente aposentados de baixa renda.
Além da omissão, há indícios de envolvimento direto de autoridades indicadas pelo próprio governo Lula. Moro aponta suspeitas de pagamento de propina a integrantes da alta cúpula do INSS, incluindo o ex-presidente do órgão e o ex-procurador geral da autarquia. Os dois foram nomeados durante o atual governo e são citados em relatórios internos como possíveis beneficiários de subornos que teriam garantido a continuidade das operações fraudulentas. Para o ex-juiz, essa conexão coloca o escândalo no centro do Palácio do Planalto e exige resposta imediata das autoridades de fiscalização.
Moro também destacou que a investigação só teve início após a exposição feita pela imprensa, o que, segundo ele, evidencia a tentativa do governo de abafar o caso. Nenhuma providência havia sido tomada até que reportagens trouxeram à tona os detalhes do esquema, forçando uma resposta institucional. Para ele, esse comportamento revela um padrão: esconder os escândalos até que sejam inevitáveis, e apenas então simular uma ação que, na prática, pouco resolve. A postura seria de conveniência política, não de compromisso com a verdade ou com a justiça.
Outro aspecto citado por Moro foi o envolvimento de entidades com vínculos históricos com o Partido dos Trabalhadores. Parte dos valores desviados teria beneficiado sindicatos e associações ligadas ao PT, e em pelo menos um caso, uma dessas entidades é dirigida por um irmão do próprio presidente Lula. Essa conexão política, afirma o ex-juiz, é mais uma prova de que o escândalo não é apenas administrativo, mas político, construído para manter aliados e parentes do presidente próximos das estruturas de poder e dos fluxos de dinheiro público.
Mesmo após o escândalo vir à tona, a mudança no comando do Ministério da Previdência foi considerada por Moro apenas simbólica. O novo ministro nomeado já ocupava o cargo de secretário executivo e, segundo declarações vazadas, sabia da existência das fraudes e não tomou nenhuma providência. A frase atribuída a ele, de que “não tinha que fazer nada”, foi citada por Moro como um retrato do desprezo com que o tema vem sendo tratado pelas autoridades do governo federal.
O ex-juiz ainda criticou a ausência de um plano eficaz para ressarcir os milhões de prejudicados. Com mais de um milhão de pedidos de devolução registrados até agora, o governo não apresentou uma proposta concreta para garantir que os valores desviados retornem aos segurados. Segundo Moro, a justificativa de que os recursos estão bloqueados judicialmente não se sustenta, já que nenhuma medida concreta de ressarcimento foi implementada até o momento.
Em meio à pressão por respostas, crescem os apelos por uma CPI no Congresso Nacional para investigar o caso. Moro alertou que o governo estaria atuando para impedir a instalação da comissão ou tentar controlar seus rumos, numa estratégia para evitar que revelações comprometedoras venham à tona. Para ele, essa movimentação é mais um indicativo de culpa e temor. Ao lado de outros parlamentares da oposição, ele defende uma apuração completa, com independência e transparência, para identificar todos os envolvidos, sejam eles técnicos, políticos ou gestores públicos.
Encerrando sua denúncia, Sérgio Moro lançou uma pergunta provocadora: qual mandato de Lula foi o mais corrupto? Citando o mensalão e a Lava Jato, ele questiona se o atual escândalo é apenas mais um episódio de um padrão histórico de corrupção sistêmica dentro do projeto político do Partido dos Trabalhadores. A provocação sintetiza sua acusação principal: para Moro, o problema não é pontual, mas estrutural. E enquanto os responsáveis não forem identificados e punidos, o sistema seguirá funcionando para proteger os poderosos e punir apenas os inocentes.