Dino, que assumiu recentemente a cadeira no STF após ter ocupado o cargo de ministro da Justiça e também ter sido governador do Maranhão, manifestou clara irritação com o que considerou um ataque pessoal travestido de liberdade de expressão. Em sua fala, fez questão de enfatizar que qualquer acusação sem provas deveria ser considerada uma afronta séria à reputação de qualquer cidadão, sobretudo de alguém que ocupa um cargo no Judiciário. Contudo, a intervenção de Mendonça rapidamente inverteu o tom da discussão.
Com serenidade, porém firmeza, Mendonça questionou a ideia de que ministros do STF estariam acima das críticas populares. “Se o cidadão não puder chamar o político de ladrão…”, iniciou o ministro, antes de ser interrompido por Dino, que rebateu: “E ministro do Supremo pode?”. Sem hesitar, Mendonça respondeu: “Eu não sou distinto dos demais. Vai responder na mesma pena que qualquer cidadão tem o direito de ser ressarcido na sua honra”.
A frase foi interpretada por muitos como uma crítica direta ao que seria uma tentativa de estabelecer uma espécie de casta dentro do Judiciário, imune às críticas públicas. Ao destacar que ele, como ministro, não está acima da lei e que qualquer ofensa deve ser tratada nos mesmos termos, Mendonça reforçou a ideia de igualdade perante a Constituição, algo frequentemente cobrado por setores da sociedade que veem nas instituições um certo afastamento do cidadão comum.
O momento de confronto entre os dois ministros ganhou rapidamente as redes sociais, com apoiadores de Mendonça exaltando sua postura como símbolo de integridade e respeito ao princípio democrático. O vídeo com o trecho da discussão, publicado no X (antigo Twitter), viralizou e gerou uma onda de comentários nas plataformas digitais, com muitos usuários acusando Dino de adotar uma postura autoritária e intolerante à crítica.
Flávio Dino, por sua vez, preferiu não estender o embate e permaneceu em silêncio após a resposta de Mendonça. A ausência de réplica foi vista como um sinal de desconforto, ou até mesmo de rendição argumentativa, diante da clareza e firmeza da posição de seu colega. Para muitos analistas políticos, o episódio é mais um reflexo das tensões internas dentro do Supremo Tribunal Federal, cujos membros têm divergido publicamente sobre questões sensíveis relacionadas à liberdade de expressão, ativismo judicial e os limites do poder institucional.
A discussão também ocorreu num contexto de crescente desconfiança de parte da população em relação às decisões do STF. Grupos conservadores e setores da direita política vêm acusando alguns ministros de extrapolarem suas funções, adotando posturas que, segundo eles, ferem princípios básicos da democracia. André Mendonça, indicado ao cargo pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, tem procurado adotar uma linha mais moderada, mas firme, nas votações e manifestações públicas, o que o tem aproximado de movimentos que cobram maior responsabilidade institucional.
Além disso, o episódio ressoa em meio a um cenário político conturbado, com o governo Lula enfrentando desafios em várias frentes, incluindo pressões judiciais, investigações envolvendo aliados e polêmicas decisões econômicas, como o recente aumento da taxa básica de juros para 14,75% ao ano. Com o presidente em viagem oficial à Rússia, coube a outros membros do governo reagirem às turbulências internas.
Enquanto isso, a repercussão do debate entre Mendonça e Dino alimenta ainda mais o clima de polarização no país, onde qualquer gesto, palavra ou voto se transforma em munição para o embate ideológico que tomou conta do cenário nacional. O momento vivenciado no plenário do STF revela não apenas uma divergência jurídica, mas também simbólica: afinal, quem pode ser criticado, em quais termos, e até onde vai a imunidade de quem ocupa cargos de poder?
O caso segue gerando debates acalorados e deverá impactar as discussões futuras sobre os limites da liberdade de expressão, especialmente no contexto da política nacional, onde a linha entre crítica legítima e ofensa pessoal muitas vezes se torna tênue. A expectativa agora é que os ministros consigam encontrar um ponto de equilíbrio entre preservar a honra das autoridades e garantir que a voz do povo continue sendo ouvida, mesmo quando dissonante.