Motta articula com partidos para adiar decisão sobre anistia

LIGA DAS NOTÍCIAS

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), intensificou sua articulação política nos últimos dias para adiar a votação do projeto de anistia aos envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023. A movimentação tem como principal objetivo enfraquecer a pressão exercida pelo PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, que defende a tramitação urgente da proposta no plenário. Motta, com apoio de líderes de 14 partidos, tenta isolar o PL e o Novo, únicas legendas que insistem em dar prioridade ao projeto.


A estratégia de Motta inclui a construção de uma narrativa de que é necessário aperfeiçoar o texto da proposta antes de submetê-lo à votação. Além disso, o presidente da Câmara tem defendido que temas mais urgentes para a população brasileira, como economia, saúde e segurança pública, devem ser tratados com prioridade no Congresso. A fala, embora genérica, tem se mostrado eficaz para atrair apoio de partidos do centrão e da base do governo.


Nos bastidores, Motta vem conduzindo reuniões com líderes partidários em um esforço para diluir as pressões que vem recebendo do PL. A mais recente dessas reuniões ocorreu na noite de quarta-feira, dia 23 de abril, com a presença de representantes de 14 partidos. Pouco antes, ele havia se reunido com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em um jantar reservado, que também contou com a participação dos mesmos líderes. O encontro teve como objetivo reforçar o alinhamento político e garantir uma frente ampla contra a votação apressada do projeto de anistia.


Enquanto isso, o PL tem intensificado sua ofensiva para forçar a votação da matéria. O líder da sigla na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), chegou a ameaçar romper com Motta e criar obstáculos para a liberação de emendas parlamentares, caso o requerimento de urgência para a proposta não fosse colocado em votação imediatamente. A ameaça explicita o nível de tensão entre o partido de Bolsonaro e o comando da Câmara.


A próxima reunião do colégio de líderes, marcada para esta quinta-feira, 24 de abril, é vista como decisiva. Nela, será definida a pauta das próximas semanas, e o projeto de anistia estará no centro do debate. Apesar da pressão, a expectativa é que Motta consiga manter o apoio da maioria dos partidos para adiar a votação e evitar um embate direto com o Supremo Tribunal Federal. A Corte já demonstrou preocupação com qualquer tentativa de suavizar as punições aos responsáveis pelos atos de janeiro de 2023.


Fontes ouvidas pela reportagem afirmam que o objetivo de Motta é construir uma alternativa que permita algum grau de concessão aos parlamentares mais ligados ao bolsonarismo, mas sem ceder completamente à ideia de uma anistia ampla. O temor entre deputados e setores do governo é de que um texto aprovado às pressas possa abrir precedentes perigosos e sinalizar conivência com crimes contra o Estado democrático de direito.


A movimentação do presidente da Câmara também é vista como um teste de força em sua relação com a base governista e com o próprio presidente Lula. Ao se posicionar contra a urgência da anistia, Motta reforça seu papel de articulador e tenta consolidar uma imagem de equilíbrio institucional, evitando alimentar conflitos desnecessários com o Judiciário.


Para analistas políticos, o movimento de isolar o PL pode marcar uma nova etapa no reposicionamento da direita no Congresso. Enquanto o partido de Bolsonaro insiste em manter a retórica de confronto, outras siglas que compõem o chamado centrão procuram uma postura mais pragmática, voltada para negociações e estabilidade política. A insistência do PL em acelerar a votação pode acabar isolando ainda mais a legenda, que já enfrenta dificuldades para ampliar sua influência no atual cenário legislativo.


Ao que tudo indica, o destino do projeto de anistia dependerá de quanto tempo Hugo Motta conseguirá manter essa coalizão unida em torno da ideia de adiar a decisão. O jogo político está apenas começando, e as próximas semanas serão decisivas para o futuro da proposta e para o equilíbrio entre os poderes em Brasília.

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