A defesa do ex-assessor argumenta que, com base nos dados de geolocalização obtidos através da operadora de telefonia e da plataforma de transporte Uber, é possível demonstrar que Martins não esteve no local nos dias citados pela acusação. Eles apontam ainda falhas na denúncia, como o uso indevido de um registro de entrada no Palácio da Alvorada, datado de 19 de novembro, para justificar sua presença no dia anterior. Esse detalhe, segundo a defesa, constitui uma prova inconsistente, que comprometeria a credibilidade das acusações.
No processo, a defesa alega que o cruzamento entre as informações obtidas dos registros de Uber e os dados de geolocalização é um conjunto relevante de evidências que refutam diretamente as alegações da Procuradoria-Geral da República. Para os advogados, essa documentação pode enfraquecer substancialmente a acusação, uma vez que demonstraria que Martins não participou das reuniões mencionadas, o que invalidaria parte da argumentação da denúncia.
Filipe Martins esteve preso por seis meses ao longo de 2023 e ainda luta para provar que não deixou o país ao final do governo Bolsonaro. Uma das razões utilizadas para justificar sua prisão foi a alegação de que Martins teria viajado para os Estados Unidos. No entanto, segundo os advogados, os dados telefônicos, que estão sob a guarda de Moraes desde o final de 2023, provam que essa viagem não ocorreu. A defesa também teve acesso, após o levantamento do sigilo das investigações da Polícia Federal, à informação de que o STF já havia autorizado o uso da geolocalização do celular de Martins, além dos dados de outros integrantes do suposto "núcleo jurídico" relacionado à trama golpista, como o padre José Eduardo de Oliveira e o advogado Amauri Feres Saad, ambos indiciados, mas que não figuram na denúncia final.
Além disso, os advogados de Martins destacam que um laudo da Polícia Federal, relativo à primeira minuta do golpe encontrada na residência do ex-ministro Anderson Torres, não identificou impressões digitais do ex-assessor no documento. Essa análise é vista pela defesa como um ponto crucial para descreditar a hipótese de que Martins tenha estado diretamente envolvido na elaboração ou discussão do conteúdo da minuta.
O julgamento da denúncia contra Filipe Martins e outros cinco acusados ocorrerá entre os dias 22 e 23 de abril, quando será analisado pelo Supremo Tribunal Federal. Essa data foi antecipada em relação ao cronograma inicial, o que deverá acelerar a resolução do caso. Além de Martins, fazem parte do chamado "núcleo dois" da acusação figuras como o general da reserva Mário Fernandes, o ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal Silvinei Vasques, além de ex-integrantes da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal.
Em março, o STF já havia aceitado a denúncia contra o "núcleo um", que inclui o ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele foi formalmente acusado de tentativa de golpe e de ações que visaram a abolição do estado democrático de direito. Ao todo, 34 pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público Federal em relação aos eventos de 2022, que envolvem a tentativa de desestabilizar o processo eleitoral e a transferência de poder no país.
O caso de Filipe Martins é parte de um conjunto de investigações complexas que envolvem a suspeita de um plano orquestrado por um grupo de pessoas ligadas ao governo anterior, visando anular ou contestar os resultados das eleições presidenciais de 2022. À medida que novas evidências surgem, como o pedido de acesso aos dados de geolocalização, o cenário processual parece estar em constante evolução, e a defesa de Martins se utiliza de diferentes estratégias legais para refutar as acusações.
Esses desdobramentos não só aumentam a tensão em torno dos processos envolvendo figuras do governo Bolsonaro, mas também refletem o momento delicado vivido pelo sistema judiciário brasileiro, que se vê diante de questões complexas sobre a manutenção da ordem democrática e a responsabilização daqueles acusados de tentar minar as instituições do país.