A Polícia Federal (PF) revelou uma nova fase das investigações sobre o tráfico internacional de drogas, que aponta para a possível corrupção de agentes da Receita Federal (RF). O caso está ligado ao tráfico de cocaína para a Europa, com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) utilizando portos e aeroportos do Brasil para movimentar grandes quantidades da droga. Segundo a PF, mensagens interceptadas entre membros do PCC indicam que a facção tinha a colaboração de servidores públicos, com o objetivo de despachar cargas de cocaína, especialmente pelo Porto de Paranaguá, no Paraná, e pelo Aeroporto de Boa Vista, em Roraima.
Em 2020, a Receita Federal realizou uma apreensão de 322 kg de cocaína escondidos entre cerâmicas em um dos contêineres que estavam no Porto de Paranaguá. Após a operação, o líder de uma célula do PCC, Willian Barile Agati, conhecido como Senna, enviou uma mensagem a um comparsa, expressando sua surpresa com a descoberta da carga. Ele mencionou que ainda estava tentando entender o que havia ocorrido, afirmando que agentes corruptos da Receita Federal estavam investigando o caso e tentando identificar o que deu errado no processo. A apreensão em questão foi uma das muitas realizadas pela Receita naquele ano, com um total de quase 5,9 toneladas de cocaína apreendidas em 18 operações, muitas delas no Porto de Paranaguá, um local frequentemente utilizado por grupos criminosos.
A PF também investiga o papel de um "planner", identificado como um profissional responsável pelo planejamento logístico no Porto de Paranaguá. Esse indivíduo, cuja identidade ainda não foi revelada, teria fornecido informações estratégicas ao PCC, facilitando a inserção de drogas em cargas legais, sem que os exportadores soubessem da presença da cocaína. A facção utilizava o método conhecido como "rip-on/rip-off", que consiste em esconder a droga entre produtos legítimos, como cerâmica, madeira ou vasos sanitários, que não chamam a atenção das autoridades durante a fiscalização.
Além disso, as investigações da PF apontam que o PCC também se utilizava do Aeroporto de Boa Vista para transportar drogas para a Europa. O administrador do aeroporto, Werner Pereira da Rocha, teria sido um dos principais envolvidos nesse esquema, ajudando a facção a enviar cargas de cocaína via aérea para a Europa. Segundo o relatório da PF, as drogas eram enviadas por um voo particular até a Bélgica, de onde eram transportadas até Londres. A operação contava com a colaboração de Agati, que utilizava um avião próprio para o transporte da droga, incluindo malas recheadas com cocaína e, em algumas ocasiões, fundos falsos em aeronaves para ocultar melhor as substâncias ilícitas.
Os pagamentos feitos a servidores corruptos da Receita Federal também estão no centro das investigações. Segundo o relatório da PF, um agente da Receita teria recebido até R$ 500 mil para liberar as malas contendo cocaína, facilitando o transporte internacional da droga. A PF identificou que o administrador do aeroporto de Boa Vista era pago cerca de R$ 250 mil por viagem realizada com sucesso, e também estava envolvido em esquemas de "vista grossa" durante a fiscalização das bagagens dos aviões utilizados pelo tráfico.
A defesa de Willian Barile Agati, conhecido como Senna, se manifestou em resposta às acusações, afirmando que ele é "presumido inocente" e que nunca praticou qualquer crime. A defesa também ressaltou que Agati é um empresário com diversos negócios e que nunca teve ligação com o PCC ou com qualquer atividade criminosa. Por outro lado, até o momento, a defesa de Werner Pereira da Rocha não foi localizada.
Este caso reflete um padrão preocupante de corrupção envolvendo servidores públicos, que facilitam o tráfico internacional de drogas, colocando em risco a segurança e a integridade das operações de fiscalização em portos e aeroportos. A Polícia Federal segue com as investigações e espera reunir mais provas para responsabilizar os envolvidos e desmantelar as células criminosas que operam com o apoio de agentes públicos corrompidos.