Scheinbaum criticou duramente as acusações feitas pelo governo americano, destacando que as tarifas terão efeitos negativos tanto para o México quanto para os Estados Unidos, com o aumento dos preços de diversos produtos no mercado americano. Entre os itens mais afetados estão frutas, como o abacate, além de computadores, automóveis e peças para veículos, que representam uma parte expressiva das exportações mexicanas para o território norte-americano. Dados do Instituto Nacional de Geografia do México mostram que, em 2024, cerca de 84% das exportações do país tiveram os Estados Unidos como destino.
Em resposta à decisão de Trump, o governo mexicano já trabalha em um plano de retaliação, chamado de “plano B”. A presidente afirmou que deu total autonomia ao secretário de Economia, Marcelo Ebrard, para implementar medidas que incluem tarifas e ações não tarifárias de interesse do México. O detalhamento dessas medidas deverá ser divulgado ainda hoje, enquanto o governo busca estratégias para minimizar os danos econômicos e manter uma postura firme diante da pressão americana.
O impacto das novas tarifas, no entanto, não se limita ao México. O Canadá, também afetado pelas medidas americanas, anunciou uma série de ações retaliatórias. O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, revelou no sábado que o país aplicará tarifas de 25% sobre produtos americanos avaliados em cerca de 106 bilhões de dólares. Essas medidas entrarão em vigor na mesma data que as tarifas americanas, com uma segunda rodada de sanções prevista para as próximas semanas. Além disso, governadores de várias províncias canadenses anunciaram a suspensão de compras de bebidas alcoólicas dos Estados Unidos como forma de protesto.
A situação entre Estados Unidos e Canadá ganhou um tom ainda mais tenso após declarações polêmicas de Trump, que sugeriu que o Canadá só se sustenta economicamente graças aos “subsídios” americanos, chegando a afirmar, em tom provocativo, que o país vizinho poderia se tornar o “51º estado” dos Estados Unidos. Essas declarações aumentaram o clima de animosidade e levaram o governo canadense a apresentar uma queixa formal na Organização Mundial do Comércio (OMC), além de acionar mecanismos previstos no tratado T-MEC, que regula as relações comerciais entre Estados Unidos, México e Canadá.
A China também se manifestou contra as novas tarifas impostas por Washington. O governo chinês afirmou que se “opõe firmemente” às taxas adicionais de 10% sobre produtos chineses, que se somam a tarifas já existentes. Pequim prometeu adotar contramedidas e recorrer à OMC, argumentando que as ações dos Estados Unidos violam compromissos comerciais internacionais. O Ministério do Comércio Exterior da China criticou ainda o governo americano por não lidar de forma adequada com questões internas, como a crise do fentanil, preferindo culpar outros países por seus problemas domésticos.
Enquanto isso, a União Europeia observa com preocupação o desdobramento da crise. Líderes do bloco se reunirão em Bruxelas para discutir uma possível resposta às ameaças de Trump de impor novas tarifas sobre produtos europeus. O presidente americano acusou a UE de práticas comerciais desleais, reclamando do déficit comercial dos Estados Unidos com o bloco, especialmente em setores como o automotivo e o agrícola. Trump sugeriu que medidas contra a Europa poderiam ser anunciadas em breve, caso não haja mudanças significativas na balança comercial.
Especialistas em economia alertam para o risco de uma escalada nas tensões comerciais, que pode desencadear uma nova guerra comercial global. As consequências podem incluir o aumento da inflação, desaceleração do crescimento econômico e instabilidade nos mercados financeiros. As bolsas da Ásia já registraram quedas significativas após o anúncio das tarifas, refletindo o temor dos investidores em relação ao impacto dessas medidas na economia mundial.
Apesar do clima de confronto, Claudia Scheinbaum destacou que o México não busca um embate direto com os Estados Unidos. Segundo ela, o objetivo é encontrar soluções baseadas no respeito mútuo e na cooperação. A presidente mexicana enfatizou a importância do diálogo para superar as divergências, mas deixou claro que o México está preparado para defender seus interesses caso as negociações não avancem.
O desfecho dessa crise comercial ainda é incerto, mas o que já está claro é que as decisões de Trump provocaram uma reação em cadeia, afetando não apenas os países diretamente envolvidos, mas também o equilíbrio econômico global. As próximas semanas serão decisivas para determinar se o caminho será o da diplomacia ou o de uma guerra comercial de grandes proporções.