Outro fator que tem pressionado a inflação é o impacto do câmbio sobre os bens industrializados. A desvalorização do real em relação ao dólar tem elevado os custos de produção e reduzido as margens das empresas, o que pode levar a novos aumentos de preços nos próximos meses. Além disso, a inflação de serviços continua em um nível elevado, acima do patamar necessário para o cumprimento da meta estabelecida, o que reforça o ambiente de preocupação com os preços. De acordo com o Copom, esse segmento da economia tem maior inércia e, em um contexto de atividade dinâmica, apresentou aceleração nos últimos indicadores.
A percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida pública também tem desempenhado um papel relevante na formação das expectativas inflacionárias e na precificação de ativos. O Copom enfatizou a necessidade de o governo federal adotar medidas que reforcem o compromisso com a disciplina fiscal e as reformas estruturais. Segundo o documento, a ausência de ações nesse sentido pode elevar a taxa de juros neutra da economia, prejudicando a eficácia da política monetária e tornando o processo de desinflação mais custoso para o nível de atividade econômica.
A taxa básica de juros, a Selic, é o principal instrumento do Banco Central para o controle da inflação. Em 2024, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 4,83%, ultrapassando o teto da meta estipulada. Diante desse cenário, o Copom decidiu, na semana passada, elevar a taxa Selic de 12,25% ao ano para 13,25%. Essa foi a quarta alta consecutiva desde setembro de 2024, quando o Banco Central interrompeu o ciclo de cortes e iniciou um movimento de aperto monetário. A expectativa do mercado financeiro é de que a Selic continue subindo no primeiro trimestre deste ano, podendo alcançar 15% ao ano.
A persistência da inflação acima da meta e o atual ambiente macroeconômico levaram os analistas a projetar que a taxa de juros permanecerá elevada até o final de 2025. Segundo o relatório Focus, publicado semanalmente pelo Banco Central, a expectativa dos economistas é de que a Selic permaneça em torno de 15% ao ano, sem perspectivas de uma redução significativa durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do mandato de Gabriel Galípolo à frente da autoridade monetária. Para este ano, as projeções indicam que a inflação deve novamente ultrapassar o teto da meta, com expectativa de 5,51%.
O Banco Central também destacou que a condução da política econômica dos Estados Unidos tem sido um fator de preocupação para o cenário global. A desaceleração econômica norte-americana e o ritmo de desinflação são acompanhados com atenção pelos mercados, assim como a postura adotada pelo Federal Reserve (Fed). O contexto externo desafiador reforça a necessidade de coordenação entre as políticas fiscal e monetária no Brasil, conforme ressaltado pelo Copom, que defendeu que tais políticas sejam previsíveis, críveis e anticíclicas.
Outro ponto abordado pelo Banco Central foi a possibilidade de descumprimento da meta de inflação já no primeiro semestre de 2025. A nova sistemática do regime de metas estabelece que, caso a inflação acumulada em 12 meses ultrapasse o intervalo de tolerância por seis meses consecutivos, a meta será considerada descumprida. Segundo o Copom, esse risco é real, e a inflação de junho poderá consolidar o descumprimento da meta caso as projeções mais pessimistas se confirmem. Se isso ocorrer, o Banco Central terá que justificar formalmente ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, os motivos para o desvio da meta.
Além da justificativa para o recente aumento da Selic, o Copom já antecipou que pretende elevar a taxa novamente na próxima reunião, marcada para os dias 18 e 19 de março. O documento indica que um novo ajuste de pelo menos 1 ponto percentual está contratado, o que levaria a Selic para 14,25% ao ano. Esse patamar não era visto desde julho de 2015, período marcado pela crise econômica do governo da ex-presidente Dilma Rousseff. Se confirmada essa nova alta, este será o quinto aumento consecutivo da taxa de juros no atual ciclo de aperto monetário.
O Banco Central não sinalizou, por enquanto, um horizonte para o fim do ciclo de elevação dos juros. A ata da última reunião reforça que o ritmo e a magnitude dos aumentos dependerão da evolução da inflação e do compromisso do Comitê com a convergência dos preços à meta estabelecida. O cenário inflacionário continuará sendo monitorado e, caso as pressões persistam, novas elevações da Selic poderão ser adotadas nos próximos meses.