De acordo com as investigações, o almirante Garnier, então comandante da Marinha, demonstrou apoio à ideia e garantiu que sua tropa estaria preparada para agir caso fosse necessário. No entanto, os comandantes do Exército e da Aeronáutica rejeitaram qualquer movimento nesse sentido, o que acabou frustrando a tentativa de golpe. A hesitação dentro das Forças Armadas teria sido determinante para que o plano não avançasse, segundo fontes que acompanham o caso.
Além da prisão de Moraes, a estratégia incluía a destituição de outras figuras do Judiciário e do Congresso que, na visão dos envolvidos, representavam obstáculos ao projeto político do então presidente. Entre os alvos estariam Gilmar Mendes, também ministro do Supremo, e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. O plano previa ainda o uso de um decreto presidencial para legitimar a intervenção, baseado na alegação de supostas fraudes nas eleições de 2022.
A revelação de Cid faz parte do inquérito que investiga uma possível tentativa de golpe de Estado após a derrota de Bolsonaro nas eleições. O depoimento se soma a uma série de evidências coletadas pela Polícia Federal, que incluem mensagens trocadas entre aliados do ex-presidente e registros de reuniões realizadas no período pós-eleitoral. As investigações também buscam esclarecer o papel de outros assessores e apoiadores, incluindo militares da ativa e da reserva, que podem ter participado da elaboração ou articulação do plano.
A reação do Supremo Tribunal Federal foi imediata. Ministros da Corte consideram que as informações reforçam a gravidade da tentativa de ruptura institucional e indicam que novas medidas poderão ser tomadas contra os envolvidos. Alexandre de Moraes, um dos principais alvos do suposto plano, já vinha conduzindo investigações sobre ataques à democracia e desinformação nas redes sociais promovida por aliados de Bolsonaro. Nos bastidores, há a expectativa de que novas diligências sejam autorizadas para aprofundar a apuração dos fatos.
O ex-presidente, por sua vez, tem adotado uma postura de negação. Em declarações recentes, Bolsonaro afirmou que nunca cogitou a possibilidade de um golpe e que sua atuação sempre esteve dentro dos limites constitucionais. No entanto, o avanço das investigações coloca seu círculo mais próximo sob pressão, com a possibilidade de novas delações e desdobramentos judiciais.
Além do impacto político, as revelações de Cid podem influenciar o andamento de processos no Tribunal Superior Eleitoral que avaliam a inelegibilidade de Bolsonaro. Especialistas afirmam que a comprovação de qualquer tentativa de golpe ou intervenção militar pode reforçar as ações que buscam impedir sua participação em futuras eleições. A defesa do ex-presidente ainda não se pronunciou oficialmente sobre as novas informações reveladas no depoimento.
O caso continua sob investigação e novas oitivas estão previstas para os próximos dias. A Polícia Federal pretende ouvir outros integrantes do governo à época para esclarecer até que ponto o plano foi levado adiante e quais foram os reais obstáculos que impediram sua execução. O desenrolar do inquérito deve influenciar o cenário político brasileiro nos próximos meses, podendo ter consequências diretas sobre Bolsonaro e seus aliados mais próximos.