Segundo fontes do Ministério da Saúde, mesmo que a Conitec aprove o medicamento, a sua disponibilização gratuita no SUS dificilmente ocorrerá em 2025. Auxiliares da ministra Nísia Trindade argumentam que o alto custo do Ozempic representa um dos principais entraves para sua incorporação imediata. Uma única dose do medicamento, comercializada em forma de "caneta injetável", tem custo médio de R$ 1 mil, o que pode onerar consideravelmente os cofres públicos. Por isso, a previsão mais otimista para sua inclusão no SUS seria em 2026.
No entanto, o uso do Ozempic tem gerado grande interesse tanto no setor público quanto privado, especialmente devido ao seu efeito colateral de controle do apetite e indução da sensação de saciedade, características que o tornam eficaz para o emagrecimento. A Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso) reconhece esses benefícios, embora enfatize a importância de supervisão médica para o uso seguro do medicamento. Além do Ozempic, outros produtos semelhantes, como o Wegovy e o Saxenda, também estão disponíveis no Brasil, mas com custos igualmente elevados.
A popularidade do Ozempic ultrapassou as fronteiras da área médica e chegou ao campo político. O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, reeleito em 2024, declarou publicamente que perdeu 30 quilos após usar o medicamento. Durante sua campanha eleitoral, Paes prometeu disponibilizar o remédio gratuitamente nas unidades de saúde pública da capital fluminense. Após a reeleição, ele assinou um decreto criando um grupo de trabalho destinado a estudar a viabilidade da medida.
A promessa de Eduardo Paes gerou debates sobre a responsabilidade do poder público em oferecer medicamentos de alto custo e sobre os critérios de priorização dentro do SUS. Para especialistas em saúde pública, a adoção de medicamentos como o Ozempic levanta questões sobre sustentabilidade orçamentária, especialmente considerando a alta demanda potencial, dada a prevalência crescente de obesidade e diabetes no Brasil. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 20% da população brasileira adulta seja obesa, o que reforça a urgência de medidas efetivas para tratar essas condições.
O uso do Ozempic em larga escala, no entanto, requer mais do que recursos financeiros. A logística de distribuição, o treinamento de profissionais de saúde e a conscientização da população sobre o uso adequado do medicamento são desafios adicionais. Especialistas alertam que o uso indiscriminado do remédio pode gerar efeitos colaterais e criar falsas expectativas, especialmente entre pessoas que buscam soluções rápidas para emagrecer, sem considerar mudanças nos hábitos alimentares e de estilo de vida.
Paralelamente às discussões nacionais, iniciativas municipais como a do Rio de Janeiro podem servir de modelo para outros estados e cidades. No entanto, a medida também pode aumentar a pressão para que o Ministério da Saúde acelere os processos de análise e incorporação de tecnologias inovadoras. A situação do Ozempic ilustra um dilema recorrente no SUS: equilibrar a incorporação de novos tratamentos com a gestão responsável dos recursos disponíveis.
Além disso, o debate em torno do medicamento reflete uma mudança mais ampla nas políticas de saúde, com maior atenção à obesidade como uma condição crônica que requer intervenções multidimensionais. A introdução de medicamentos como o Ozempic no SUS pode representar um avanço significativo nesse contexto, mas exige planejamento rigoroso e diálogo entre os diversos atores envolvidos.
Enquanto isso, a população acompanha com expectativa os desdobramentos do caso, que não apenas afeta diretamente milhões de brasileiros, mas também levanta questões importantes sobre o papel do sistema público de saúde em atender às necessidades de uma sociedade cada vez mais impactada por doenças metabólicas. A decisão final sobre a inclusão do Ozempic no SUS será um marco para a política de saúde pública no Brasil, refletindo as prioridades e desafios enfrentados pelo sistema em um cenário de recursos limitados e demandas crescentes.