De acordo com Rodrigues, o depoimento de Cid, que implicou algumas pessoas na articulação de um golpe, foi cuidadosamente analisado, mas, no caso de Eduardo e Michelle, os elementos apresentados não foram suficientes para configurar indícios claros de envolvimento. Ele enfatizou que o relatório final do inquérito não apontou dados adicionais que pudessem reforçar a acusação contra o deputado e a ex-primeira-dama.
Ao longo do ano passado, a PF indiciou 40 pessoas no âmbito da investigação, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro, os ex-ministros Walter Braga Netto e Augusto Heleno, e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, que também foram mencionados por Cid em sua delação premiada. Cid, por sua vez, afirmou que os dois, Eduardo e Michelle, teriam participado de discussões sobre um possível golpe, envolvendo diretamente o ex-presidente, com a intenção de reverter o resultado das eleições de 2022.
O depoimento de Cid foi colhido em agosto de 2023 e tornou-se um ponto central nas apurações da PF. Durante sua delação, Cid revelou que, após a derrota de Bolsonaro nas urnas, três grupos distintos se formaram ao redor do ex-presidente: os "conservadores", os "moderados" e os "radicais". O ex-ajudante de ordens detalhou que, dentro do grupo mais radical, Eduardo e Michelle Bolsonaro estavam alinhados com aqueles que defendiam a possibilidade de um golpe, alimentando a ideia de contestar o resultado das urnas e buscar uma solução fora dos limites constitucionais.
Em sua delação, Cid mencionou que o deputado e a ex-primeira-dama eram figuras chave em discussões internas sobre uma ação radical, buscando pressionar Bolsonaro a adotar posturas mais extremas. Cid também fez menção a um segundo núcleo radical que, de acordo com ele, propunha o uso de um braço armado para executar um golpe. Entre os envolvidos desse grupo estariam Valdemar Costa Neto e o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde.
A delação de Cid foi homologada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em setembro de 2023, e resultou em mais de dez depoimentos subsequentes, que ajudaram a formar o quadro das investigações.
No entanto, a Polícia Federal não encontrou elementos suficientes para prosseguir com a acusação formal contra Eduardo e Michelle. Andrei Rodrigues, em sua entrevista, afirmou que a conclusão do trabalho da PF foi a de que não havia dados concretos para incriminar as duas figuras políticas, além de outros envolvidos que também foram investigados, mas não indiciados.
Em resposta às alegações feitas por Cid, tanto Eduardo quanto Michelle Bolsonaro se posicionaram publicamente nas redes sociais. Eduardo Bolsonaro usou seu perfil para rebater as acusações, questionando a imparcialidade do processo, uma vez que a investigação está sendo conduzida pelo Supremo Tribunal Federal, e afirmando que não teria tido a oportunidade de se defender adequadamente. Ele criticou a condução do inquérito, sugerindo que não haveria uma ampla defesa e que o processo não seguia os princípios do devido processo legal.
Por sua vez, Michelle Bolsonaro também se manifestou, fazendo uma ironia sobre o depoimento de Cid. A ex-primeira-dama publicou uma postagem em seu Instagram, na qual, além de compartilhar a notícia sobre o envolvimento da PF nas investigações, publicou um avatar de seu rosto segurando duas xícaras, transbordando de lágrimas, fazendo referência sarcástica ao conteúdo das acusações.
Essa situação segue gerando um intenso debate sobre os limites da investigação, os direitos dos envolvidos e o tratamento das delações premiadas. A PF, apesar de ter realizado um extenso trabalho de apuração, teve de concluir que não havia elementos suficientes para formalizar as acusações contra algumas das figuras citadas, o que, para muitos, reforça as tensões políticas em torno do processo. A investigação continua, e novos indiciamentos não estão descartados, à medida que mais provas possam surgir.
Embora o inquérito já tenha causado grande repercussão, a decisão da Polícia Federal de não indiciar Eduardo e Michelle Bolsonaro reflete a complexidade da apuração e a necessidade de reunir provas claras para responsabilizar os envolvidos, caso se comprove algum ato ilícito. A questão do golpe de Estado permanece em discussão, com a dúvida sobre até que ponto as articulações descritas por Cid podem ser traduzidas em ações concretas e legais.