Nova gestão Trump favorece agro brasileiro, mas deve desvalorizar real

Caio Tomahawk

 

A posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos trouxe expectativas e incertezas para o cenário econômico global, especialmente para países emergentes como o Brasil. O retorno de Trump ao comando do governo norte-americano promete repetir, e até intensificar, as políticas protecionistas de sua primeira gestão, o que pode gerar impactos significativos no comércio internacional, nas taxas de câmbio e na inflação.

No Brasil, as primeiras repercussões já são evidentes. Após a posse, o dólar encerrou o primeiro pregão com uma leve queda de 0,4%, sendo cotado a R$ 6,04, reflexo de intervenções do Banco Central por meio de leilões de venda da moeda. Apesar dessa movimentação pontual, o mercado financeiro projeta que o dólar deve permanecer acima de R$ 6 durante o ano de 2025, seguindo uma tendência de alta global impulsionada pela valorização da moeda norte-americana e pela instabilidade nos mercados emergentes.

Um dos principais fatores para essa valorização é o anúncio de novas tarifas de importação pelos Estados Unidos, parte da estratégia protecionista de Trump. A medida busca restringir a entrada de produtos de países como a China, com quem os EUA mantêm uma guerra comercial. Esse cenário, embora desafiador, pode abrir novas oportunidades para o agronegócio brasileiro. Com a redução da competitividade chinesa no mercado americano, o Brasil poderá aumentar suas exportações de commodities e produtos agrícolas para os Estados Unidos, fortalecendo sua posição como parceiro comercial.

Flávio Roscoe, presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), destacou que a rivalidade entre EUA e China cria um espaço estratégico para o Brasil. Segundo ele, o país tem potencial para ampliar sua participação tanto no mercado americano quanto no asiático, aproveitando a disputa entre as duas maiores economias do mundo.

Entretanto, nem todos os impactos são positivos. A desvalorização do real frente ao dólar, somada ao aumento das tarifas de importação, tende a elevar os custos de produtos importados e pressionar a inflação no Brasil. Especialistas apontam que o ambiente econômico global pode exigir ajustes nas políticas fiscais e monetárias para minimizar os efeitos negativos. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne na próxima semana para definir o novo patamar da taxa Selic, com indicativos de possíveis altas nos juros para conter a inflação.

Nos Estados Unidos, a política fiscal expansionista de Trump, que inclui cortes de impostos e aumento de gastos públicos, tem gerado preocupações sobre seu impacto inflacionário. Caso a inflação americana aumente, o Federal Reserve (Fed) pode interromper o ciclo de redução de juros, tornando os ativos americanos mais atrativos para investidores e pressionando ainda mais as moedas de países emergentes, como o real.

Além das questões econômicas, as relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos também ganham destaque nesse contexto. O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, cumprimentou Trump após sua posse e destacou o desejo de fortalecer as parcerias entre os dois países em áreas como comércio, ciência e cultura. Contudo, a relação entre os líderes nunca foi próxima, e divergências políticas podem dificultar avanços significativos no curto prazo.

Durante a campanha eleitoral, Trump criticou as tarifas impostas pelo Brasil e prometeu retaliar com medidas semelhantes. Em uma coletiva de imprensa, o presidente norte-americano afirmou que países como Índia e Brasil "taxam muito" os produtos americanos e sugeriu que adotará uma política de reciprocidade. Esse posicionamento pode gerar atritos comerciais, embora o Brasil dependa fortemente do mercado norte-americano, seu segundo maior parceiro comercial, atrás apenas da China.

Em 2023, as exportações brasileiras para os Estados Unidos somaram US$ 36,9 bilhões, mas o saldo da balança comercial foi negativo, com um déficit de US$ 6,2 bilhões. Isso reflete a dependência do Brasil de produtos importados e a necessidade de equilibrar sua pauta de exportações, apostando em setores como o agronegócio para aumentar a competitividade no mercado internacional.

A combinação de tensões comerciais, flutuações cambiais e ajustes econômicos deverá marcar o início do novo governo Trump e seus impactos globais. No Brasil, a adaptação a esse cenário exigirá políticas econômicas sólidas e estratégias comerciais para aproveitar as oportunidades e mitigar os desafios. Analistas reforçam que, embora o protecionismo americano possa favorecer exportadores brasileiros, o custo econômico e social da desvalorização do real não deve ser subestimado.

O novo capítulo nas relações entre Brasil e Estados Unidos começa com expectativas cautelosas. Enquanto setores como o agronegócio se mostram otimistas, outros enfrentam incertezas diante das políticas de Trump. A necessidade de diálogo e cooperação será essencial para que ambos os países superem as adversidades e aproveitem as oportunidades de um mercado cada vez mais globalizado e interdependente.


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