Aguas Blancas é um pequeno município argentino com cerca de 1,5 mil habitantes e está localizado no nordeste da província de Salta. A cidade faz divisa com Bermejo, na Bolívia, separadas pelo rio de mesmo nome, que atua como fronteira natural entre os dois países. A região é frequentemente apontada como um dos principais pontos de passagem para o tráfico de drogas, e o governo argentino argumenta que a cerca ajudará a intensificar a fiscalização e reduzir atividades criminosas.
A construção da barreira foi confirmada por Adrián Zigaran, interventor do governo federal na província de Salta, em uma entrevista à imprensa local. Segundo Zigaran, a medida está alinhada com o esforço do governo Milei em priorizar a segurança nas áreas de fronteira e reforçar o combate ao crime organizado. Ele destacou que a região de Aguas Blancas é uma das mais vulneráveis do país e que a cerca é apenas uma das etapas do plano para garantir maior controle e proteção aos cidadãos argentinos.
A decisão, no entanto, gerou reações no governo boliviano. O Ministério das Relações Exteriores da Bolívia emitiu um comunicado expressando preocupação com a medida, enfatizando que questões fronteiriças devem ser tratadas através de mecanismos de diálogo bilateral. “As fronteiras são espaços compartilhados, e é fundamental que as soluções sejam coordenadas entre os estados, respeitando os princípios de boa vizinhança e cooperação”, destacou o comunicado. A declaração sugere que a Bolívia pode buscar canais diplomáticos para discutir o impacto da decisão argentina.
Apesar das críticas, o governo de Milei defende que a construção da cerca é uma ação necessária para conter o tráfico de drogas e proteger os cidadãos. Patricia Bullrich enfatizou que a decisão foi tomada com base em estudos que apontam a vulnerabilidade da área e destacou que o governo está aberto a negociações com a Bolívia, mas sem comprometer as ações de segurança planejadas. “Estamos dispostos a dialogar, mas o foco principal é garantir a segurança do povo argentino”, afirmou a ministra.
Especialistas em relações internacionais e segurança pública apontam que a medida pode intensificar tensões entre os dois países. Analistas afirmam que a construção da cerca é um reflexo das políticas mais rigorosas adotadas pelo governo Milei, que busca reforçar a soberania nacional e implementar um modelo de segurança mais centralizado. Por outro lado, críticos argumentam que barreiras físicas raramente são eficazes para conter crimes transnacionais e que ações conjuntas entre os países seriam mais produtivas a longo prazo.
A população local, especialmente os moradores de Aguas Blancas, se divide em relação à medida. Enquanto alguns apoiam a construção da cerca como uma forma de aumentar a segurança, outros temem que a estrutura dificulte o comércio e as interações diárias entre as comunidades de ambos os lados da fronteira. A economia de Aguas Blancas depende significativamente das trocas realizadas com Bermejo, e restrições adicionais podem impactar negativamente a vida dos habitantes.
A medida também reacendeu debates sobre as políticas de controle de fronteira adotadas pela Argentina. Javier Milei, que assumiu a presidência com uma plataforma que prometia mudanças radicais, tem adotado uma postura rígida em relação à segurança e ao combate ao crime organizado. O Plano Güemes, do qual a construção da cerca faz parte, é apenas uma das várias iniciativas que visam fortalecer a presença do Estado nas áreas mais vulneráveis do país.
À medida que as obras se iniciam, a expectativa é que o diálogo entre Argentina e Bolívia se intensifique nos próximos meses. A comunidade internacional também acompanha de perto os desdobramentos da medida, avaliando seu impacto nas relações bilaterais e na dinâmica regional. Enquanto isso, o governo argentino segue defendendo a construção da cerca como um passo essencial para proteger suas fronteiras e combater o tráfico de drogas, reafirmando o compromisso com a segurança do país.