O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a cobrar dos países desenvolvidos o cumprimento dos compromissos firmados no Acordo de Copenhague, que previa a destinação de 100 bilhões de dólares anuais para financiar ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas em países em desenvolvimento. Durante um evento recente, Lula questionou se a comunidade internacional levará a sério a necessidade de financiamento climático ou se as conferências da ONU sobre o tema continuarão sendo apenas promessas no papel. Segundo ele, a falta de cumprimento desses compromissos ameaça a credibilidade das COPs e prejudica os esforços globais de combate ao aquecimento global.
A questão do financiamento climático será um dos principais desafios da COP 30, que será realizada em novembro deste ano na cidade de Belém, no Pará. A conferência tem como uma de suas principais metas obter 1,3 trilhão de dólares para impulsionar políticas ambientais e enfrentar a crise climática. Na COP 29, realizada em Baku, Azerbaijão, no ano passado, os países concordaram em destinar um total de 300 bilhões de dólares anuais até 2035, um valor muito abaixo do necessário para atender às demandas dos países em desenvolvimento. O resultado gerou críticas de especialistas e foi considerado um retrocesso por diversas nações.
O embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP 30, reconheceu que alcançar esse financiamento será uma tarefa difícil. A situação pode se tornar ainda mais desafiadora com o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, caso se confirme nas eleições deste ano. Trump já demonstrou ceticismo em relação a políticas ambientais e, em seu primeiro mandato, retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris. Seu posicionamento pró-combustíveis fósseis e contrário a medidas climáticas mais rígidas pode dificultar negociações e comprometer os avanços obtidos até agora.
Lula também destacou a importância da escolha de Belém como sede da COP 30, ressaltando que o evento será uma oportunidade para que líderes globais conheçam de perto a realidade da Amazônia. Segundo ele, muitas nações opinam sobre a floresta sem ter um conhecimento aprofundado da região e de seus desafios. O governo brasileiro pretende usar a conferência para reforçar sua posição como liderança na pauta ambiental e demonstrar os esforços do país na redução do desmatamento e na transição para uma economia sustentável.
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, reafirmou que o Brasil tem o compromisso de zerar o desmatamento até 2030. Segundo ela, o país já conseguiu avanços importantes, como a redução de 45% no desmatamento da Amazônia e de 48% no Cerrado no último ano. No entanto, ressaltou que a meta de desmatamento zero exige um esforço contínuo e investimentos significativos, motivo pelo qual o financiamento climático prometido pelos países ricos é essencial.
Enquanto isso, os desafios ambientais no Brasil continuam crescendo. O Anuário Estadual de Mudanças Climáticas, divulgado recentemente, revelou que os incêndios florestais aumentaram significativamente no país entre 2023 e 2024. São Paulo registrou um crescimento alarmante no número de queimadas, com uma área incendiada de 6.163 quilômetros quadrados, 13 vezes maior do que no ano anterior. O aumento de 1.235% fez com que o estado se tornasse um dos mais afetados pelos incêndios, atrás apenas do Pará, que continua liderando o ranking de destruição ambiental. O Mato Grosso do Sul, o Mato Grosso e Minas Gerais também apresentaram aumentos expressivos no número de queimadas.
Os dados mostram que, em 2024, mais de 300 mil quilômetros quadrados foram queimados no Brasil, uma área superior ao território da Itália. Esse aumento de 79% em relação ao ano anterior reforça a necessidade de políticas ambientais mais eficazes e de recursos para combater o avanço das queimadas. O fenômeno é impulsionado tanto por fatores naturais, como o agravamento da seca devido às mudanças climáticas, quanto por atividades humanas, como o desmatamento ilegal e a expansão da agropecuária em áreas sensíveis.
A situação reflete a urgência de um compromisso global mais efetivo na proteção ambiental. O Brasil, apesar de seus esforços, depende de investimentos internacionais para financiar programas de conservação e reduzir a emissão de gases de efeito estufa. Para Marina Silva, o combate ao desmatamento e às mudanças climáticas deve ser uma prioridade compartilhada por todas as nações, e não apenas pelos países que possuem grandes áreas florestais.
Lula pretende intensificar as negociações com os países desenvolvidos ao longo dos próximos meses, buscando garantir que a COP 30 alcance avanços concretos. A pressão sobre as nações ricas deve aumentar, especialmente diante do histórico de promessas não cumpridas. O presidente tem insistido que não se pode permitir que as conferências climáticas se tornem meros eventos políticos, sem impacto real na luta contra a crise climática.
Além das questões ambientais, o governo brasileiro também tem voltado sua atenção para a segurança alimentar global. Lula anunciou que organizará uma reunião com ministros da Agricultura de países africanos em maio para discutir estratégias de combate à fome. O encontro será a primeira ação da Aliança Global de Combate à Fome, lançada na reunião do G20 no Rio de Janeiro no ano passado.
Com a aproximação da COP 30, o Brasil busca consolidar sua liderança na agenda climática internacional. O desafio, porém, será garantir que os compromissos assumidos pelas grandes potências saiam do papel e se transformem em ações concretas. O sucesso da conferência dependerá não apenas da diplomacia brasileira, mas da disposição dos países desenvolvidos em finalmente cumprir suas obrigações financeiras e apoiar medidas eficazes para conter a crise climática global.