A saída de Cida Gonçalves já era considerada iminente desde o início do ano, quando começaram as especulações sobre uma reforma ministerial promovida por Lula. Uma das principais razões para a substituição foram as denúncias de assédio moral envolvendo a então ministra. Apesar de a Comissão de Ética Pública da Presidência ter rejeitado, em fevereiro, a abertura de processo com base nas acusações, o episódio contribuiu para o desgaste de sua imagem à frente da pasta. Cida, por sua vez, negou todas as acusações. Na última sexta-feira, dia 2, ela chegou a se reunir com o presidente, mas, naquela ocasião, não houve anúncio oficial de sua saída.
A nova ministra, Márcia Lopes, já tem experiência na área de políticas públicas voltadas às mulheres e à assistência social. Ela retorna ao primeiro escalão do governo federal, tendo sido ministra do Desenvolvimento Social no segundo mandato do próprio Lula, entre 2010 e 2011. Sua nomeação é interpretada como uma tentativa do presidente de resgatar o perfil técnico e o prestígio institucional da pasta, ao mesmo tempo em que busca estabilidade em meio às pressões políticas.
A reforma ministerial que Lula ensaiou desde o início de 2025 tem ocorrido de forma gradual. Essa foi apenas a terceira substituição relacionada ao desempenho do ministro, sem ligação com escândalos ou denúncias formais. A primeira delas foi a substituição de Paulo Pimenta por Sidônio Palmeira na Secretaria de Comunicação Social. Em março, Lula demitiu Nísia Trindade do Ministério da Saúde, nomeando em seu lugar Alexandre Padilha, que antes estava na Secretaria de Relações Institucionais. Com a saída de Padilha, o governo indicou a deputada Gleisi Hoffmann para comandar a articulação política no Congresso.
Outras mudanças promovidas ao longo do ano envolveram nomes atingidos por denúncias mais graves. O ex-ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, pediu demissão após uma série de revelações envolvendo fraudes no pagamento de benefícios do INSS. Embora não tenha sido formalmente investigado, Lupi foi duramente criticado por não ter tomado providências imediatas diante das denúncias, que já circulavam desde 2023. O caso foi investigado pela Polícia Federal e pela Controladoria-Geral da União, gerando grande desgaste político.
Já Juscelino Filho, que ocupava o Ministério das Comunicações, foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República por supostos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa. A acusação está relacionada ao desvio de emendas parlamentares destinadas à cidade de Vitorino Freire, no Maranhão, onde sua irmã era prefeita. Segundo a denúncia, Juscelino teria recebido propinas em troca do favorecimento de empresas contratadas com os recursos públicos.
Apesar das trocas, o presidente ainda não realizou alterações que impactem diretamente a presença dos partidos do Centrão em seu governo. Essa era uma das principais expectativas quando se começou a discutir a reforma ministerial, já que o objetivo de Lula seria ampliar sua base de apoio no Congresso Nacional. No entanto, até o momento, as mudanças têm priorizado ajustes pontuais em pastas técnicas ou em casos que se tornaram insustentáveis devido a denúncias ou desempenho insatisfatório.
A nomeação de Márcia Lopes pode representar uma tentativa de dar novo fôlego à agenda de políticas para as mulheres em um momento em que o governo enfrenta críticas em diferentes frentes. O gesto também sinaliza que Lula busca consolidar uma equipe ministerial mais coesa e eficiente, com vistas à reta final de seu mandato. Resta saber se as próximas semanas trarão mais mudanças e se a tão aguardada reestruturação da Esplanada dos Ministérios se concretizará com maior intensidade.
Com doze mudanças já realizadas, Lula tenta equilibrar a pressão por resultados, as exigências de governabilidade e os compromissos políticos assumidos com sua base aliada. A substituição de Cida Gonçalves por Márcia Lopes reforça esse movimento de ajustes graduais, que podem se intensificar conforme o cenário político evoluir ao longo de 2025.