Girão questionou a validade da colaboração do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que foi uma das figuras centrais nas apurações que investigam uma tentativa de golpe no pós-eleitoral de 2022. O senador do Novo-CE criticou a PGR por sua atuação, apontando uma suposta “subserviência” ao longo do processo investigativo, o que, segundo ele, teria prejudicado a apuração dos fatos. Em sua visão, a falta de uma reação firme por parte de Gonet em relação às informações trazidas pela delação de Cid configura uma falha grave, que envolve até mesmo a omissão em lidar com uma possível ilegalidade.
A denúncia apresentada pela PGR em fevereiro deste ano, que incluiu a acusação contra 34 pessoas relacionadas ao plano de golpe, foi vista por Girão como insuficiente, já que o procurador-geral, em sua avaliação, não teria agido com a diligência necessária para garantir a correção e a integridade das investigações. O senador afirmou que, ao não tomar providências diante do que considerou falhas no processo, Gonet teria agido de maneira negligente, ao permitir que a investigação seguisse sem uma fiscalização adequada.
Além disso, Girão também afirmou que a atuação do procurador-geral pode ter comprometido a confiança da população nas instituições responsáveis pela defesa da ordem jurídica. Em sua visão, a PGR não apenas falhou em fiscalizar as delações e investigações, mas também não deu a devida atenção aos elementos que poderiam ter levado a uma apuração mais profunda do suposto golpe planejado após as eleições. Para o parlamentar, tal postura configura uma série de falhas, que incluem a prevaricação e a omissão, graves em uma investigação de tamanha importância para o país.
O pedido de impeachment foi formalizado em companhia de Sebastião Coelho, ex-desembargador do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), e do advogado Rodrigo Saraiva Marinho. Girão destacou que outros dez senadores haviam apoiado sua iniciativa, incluindo nomes como Magno Malta (PL-ES), Plínio Valério (PSDB-AM), Cleitinho Azevedo (PL-MG), Márcio Bittar (União-AC), Styvenson Valentim (PSDB-RN), Damares Alves (Republicanos-DF), Jayme Bagattoli (PL-RO), Luiz Carlos Heinze (PP-SC), Carlos Portinho (PL-RJ) e Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Este apoio demonstraria uma tentativa de fortalecer a pressão sobre a PGR e a necessidade de um exame mais rigoroso da condução do caso.
Entretanto, para que o pedido de impeachment tenha sucesso, ele precisa do apoio do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). Cabe ao Senado não apenas analisar as denúncias, mas também sabatinar e aprovar autoridades indicadas para cargos-chave, como o de procurador-geral da República. Portanto, o sucesso da iniciativa depende da aprovação dessa primeira etapa pelo Senado, que seria a responsável por determinar a continuidade ou não do processo.
A CNN Brasil procurou a assessoria da PGR para obter uma posição oficial sobre o pedido de impeachment, mas até o momento, ainda não obteve uma resposta oficial. O caso, que tem gerado bastante repercussão no Congresso Nacional, coloca em evidência a tensão crescente entre os poderes Executivo e Legislativo, bem como as críticas sobre a forma como o processo investigatório envolvendo as supostas tentativas de golpe está sendo conduzido pela Procuradoria.
O pedido de impeachment, se avançar, poderá abrir uma nova frente de confrontos entre os aliados de Bolsonaro e a atual gestão, além de influenciar a relação entre os poderes no contexto político atual. Embora a iniciativa de Girão tenha sido apoiada por um número significativo de senadores, o processo de impeachment é muitas vezes um processo lento e cheio de embates, sendo incerto se este pedido prosperará ou se será engavetado pela falta de consenso no Senado. O desdobramento desse episódio, portanto, deverá seguir sendo acompanhado de perto pela sociedade e pela classe política, que observa atentamente os próximos movimentos das autoridades envolvidas.