O inquérito contra Kassab investiga acusações de corrupção passiva, caixa dois e lavagem de dinheiro. Especificamente, ele teria recebido 16 milhões de reais em propina da JBS em troca de apoio político. O político, por sua vez, nega as acusações e alega que os valores são provenientes de serviços empresariais prestados fora de sua atuação pública.
A reabertura do caso ganhou contornos políticos porque ocorre em meio ao debate sobre a anistia de condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023. Nos bastidores, fontes do Judiciário interpretam a decisão de Moraes como uma estratégia para pressionar Kassab e o PSD a não apoiarem a proposta. O partido vinha sinalizando suporte à anistia, e Kassab chegou a se reunir com o ex-presidente Jair Bolsonaro para tratar do tema.
No dia 16 de março, Bolsonaro mencionou Kassab em um evento público, afirmando que o presidente do PSD estava ao lado do grupo que defendia a anistia. Poucos dias depois, Moraes determinou a retomada do inquérito contra Kassab, o que fez com que a decisão fosse vista como uma tentativa de influenciar o posicionamento do PSD.
O caso se desenrola em um cenário político já conturbado, especialmente com as recentes pesquisas eleitorais indicando um crescimento na popularidade de Bolsonaro. Segundo levantamento do Instituto Futura, publicado pela revista Exame, se as eleições presidenciais de 2026 fossem realizadas hoje, Bolsonaro teria 41,9% das intenções de voto, enquanto o atual presidente Lula alcançaria 31,7%. A vantagem de 10,2 pontos percentuais sugere a possibilidade de uma vitória de Bolsonaro já no primeiro turno, considerando que votos brancos e nulos são desconsiderados na contagem oficial dos votos válidos.
A desaprovação ao governo Lula também tem aumentado. De acordo com a pesquisa, apenas 26,8% dos entrevistados avaliam positivamente a gestão petista, enquanto 52,6% expressam desaprovação. Esse índice é o mais baixo registrado desde o início do terceiro mandato de Lula.
O julgamento no STF envolvendo Bolsonaro e seus aliados, por conta da suposta tentativa de golpe para impedir a posse de Lula, adiciona mais tensão ao cenário político. O ex-presidente está atualmente inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral, válida até 2030, mas os números das pesquisas indicam que ele ainda mantém forte apoio popular.
A movimentação de Moraes em relação ao inquérito de Kassab reforça a tese de que há uma intensa disputa de bastidores envolvendo o Judiciário e o meio político. Para alguns analistas, a decisão do ministro pode ser vista como um recado para que lideranças partidárias reconsiderem suas posições sobre temas sensíveis, como a anistia dos envolvidos nos atos de 8 de janeiro.
No entanto, há quem argumente que a reabertura do caso contra Kassab está fundamentada na nova jurisprudência do STF sobre foro privilegiado e que não se trata de uma ação direcionada contra o presidente do PSD. De qualquer forma, o episódio evidencia a crescente influência do Judiciário sobre o tabuleiro político nacional e a decisões judiciais podem impactar articulações políticas.
O PSD ainda não se pronunciou oficialmente sobre o caso, mas a decisão de Moraes pode influenciar os rumos do partido nas negociações políticas futuras. Enquanto isso, Bolsonaro e seus aliados seguem pressionando por uma definição favorável à anistia, enquanto enfrentam seus próprios desafios jurídicos. O desenrolar dos acontecimentos nos próximos meses será decisivo para o futuro das alianças políticas e para o impacto das decisões judiciais no cenário eleitoral de 2026.