Exército admite incômodo e já precifica denúncia de militares e Bolsonaro

LIGA DAS NOTÍCIAS


A semana em Brasília começou com uma expectativa crescente em relação à Procuradoria-Geral da República (PGR), que pode apresentar uma denúncia formal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e outras 39 pessoas, entre elas militares de alta patente, por envolvimento na tentativa de golpe de 2023. Enquanto a investigação avança, o clima no Quartel-General do Exército, em Brasília, também é de apreensão. Militares de alta patente, ouvidos pela coluna, já lidam com a perspectiva de que a instituição será afetada, mas afirmam que o impacto está precificado, ou seja, as Forças Armadas já assumiram o desgaste que a situação trará para sua imagem.

Nos bastidores, a avaliação é de que, pelos indícios apresentados até o momento pela Polícia Federal, os militares envolvidos — incluindo o general da reserva Braga Netto — agiram de maneira indisciplinada, e o que parecia ser uma tentativa de golpe acabou se transformando em um verdadeiro escândalo de desvio ético. As provas contra os acusados são contundentes, o que dificulta qualquer defesa sólida para eles. Além de suas implicações no âmbito civil, há a expectativa de que a Justiça Militar também tome ações. De acordo com fontes da cúpula do Exército, é possível que alguns desses oficiais percam suas patentes, o que seria inédito, já que retirar a patente de um general quatro estrelas é uma medida extrema e rara.


A prisão de Braga Netto, que ocorreu em 14 de dezembro de 2023, adicionou um novo capítulo a essa história. Durante o período de encarceramento, ele não poupou críticas ao atual comandante do Exército, general Tomás Paiva, e a outros generais do Alto Comando. Em conversas internas, membros da caserna argumentam que a atitude de Braga Netto foi uma escolha pessoal por se envolver em jogos de poder, e embora ele tenha tentado arranjar apoio dentro das Forças Armadas para sua trama golpista, não obteve sucesso. “Ele não conseguiu o racha que queria e também não há ninguém dentro da instituição revoltado com sua prisão”, afirmou um general que preferiu não se identificar.


Apesar do alívio interno de que a tentativa de golpe não teve o apoio majoritário das Forças Armadas, o desgaste para a imagem da instituição é inegável. A cúpula militar admite que o episódio causou um incômodo significativo, e o processo de "limpeza" da imagem das Forças Armadas pode levar tempo. O receio de que a política tenha se infiltrado no quartel é uma preocupação que persiste entre os oficiais de alta patente.


O Exército, no entanto, mantém a doutrina de que ninguém será deixado para trás, mas enfatiza que não haverá proteção para aqueles que transgredirem as normas e que o erro na conduta dos envolvidos é claro e inquestionável. Para os generais, o melhor a fazer no momento é aguardar os desdobramentos com serenidade, sempre respeitando o devido processo legal, que inclui os trâmites internos da instituição.


Em relação a Braga Netto, foi realizada uma visita recente por Tomás Paiva, que se deslocou até a prisão onde o general está detido, uma prática comum para todos os militares que se encontram nessa situação. Durante a visita, Paiva se preocupou em saber sobre a saúde de Braga Netto, se ele tinha notícias da família e se estava tendo acesso à ampla defesa. Este gesto foi visto como um reflexo do respeito que o Exército tem pelo tratamento digno aos seus membros, independentemente da situação em que se encontram.


Além de Braga Netto, outras figuras militares envolvidas na tentativa de golpe enfrentam um cenário semelhante. No entanto, a cúpula militar reafirma que, embora haja um reconhecimento do erro grave por parte desses oficiais, o foco está em garantir que a Justiça seja feita, sem espaço para corporativismos. A disciplina interna, ressaltam os generais, deve prevalecer em todas as circunstâncias.


Quanto a Bolsonaro, a possível denúncia contra o ex-presidente não provoca reações significativas dentro das Forças Armadas, já que, apesar de ser ex-capitão, ele não está mais ativo na instituição. Entretanto, a notícia de que ele poderia solicitar, caso seja preso, a permissão para ficar em uma instalação militar chegou aos ouvidos dos oficiais do Exército. Essa possibilidade, no entanto, é considerada remota. A cúpula militar entende que, se Bolsonaro for preso, dificilmente o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, permitiria que ele fosse mantido em um ambiente militar, por conta do risco de ele tentar manipular ou incitar motins.


Para os militares, a figura do ex-presidente, mesmo sendo ex-chefe de Estado, não terá tratamento diferenciado dentro das Forças Armadas caso seja condenado. A instituição vê sua prisão dentro dos limites legais, reconhecendo as prerrogativas de ex-presidente, mas sem abrir mão do cumprimento das regras e da disciplina.


Dessa forma, a situação segue em um momento delicado para o Exército, que tenta se recuperar do golpe causado pela trama golpista, enquanto aguarda as próximas etapas do processo judicial. O impacto dessa crise ainda deve ser sentido por algum tempo, mas a expectativa é de que, com o devido processo legal, as Forças Armadas possam restaurar sua imagem e reforçar os princípios de disciplina e ética que sempre nortearam a instituição.

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