O ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, criticou duramente a política econômica do governo Lula em um artigo recente, no qual apontou sete razões para o que chamou de "déficit de credibilidade". Franco, conhecido como um dos idealizadores do Plano Real, destacou que os economistas ligados ao Partido dos Trabalhadores nunca demonstraram um compromisso genuíno com o equilíbrio fiscal. Ele afirmou que, mesmo os considerados mais moderados dentro do partido, tendem a rejeitar o chamado "pensamento único" e, em muitos casos, confrontam abertamente a responsabilidade fiscal.
Segundo ele, quando esses economistas assumem posições no governo, tentam adotar uma postura pragmática, mas, no fundo, acabam apenas encenando uma convicção que não possuem. Isso, para Franco, afeta diretamente a credibilidade das políticas econômicas adotadas, criando um cenário de desconfiança que compromete decisões e resultados. Ele destacou que a recente política de expansão fiscal do governo, implementada principalmente pela PEC da Transição, gerou inconsistências profundas. Com o aumento significativo dos gastos públicos, o Banco Central foi forçado a endurecer suas ações para conter os impactos inflacionários, o que levou o país a um impasse econômico. Para o economista, essa política de "pé no acelerador fiscal" foi adotada sem considerar as consequências de longo prazo.
Outro ponto levantado por Franco foi a falta de inovação nas políticas econômicas do governo. Ele atribuiu isso à escolha de ministros com perfis políticos, mas com pouca experiência técnica. Em sua avaliação, a condução da economia reflete uma carência de propostas robustas e visionárias, enquanto decisões importantes são baseadas em discursos retóricos e pouco consistentes. O economista também criticou as prioridades do governo, como as reformas tributária e fiscal, mencionando que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chegou a comparar a reforma tributária ao impacto do Plano Real. Para Franco, essa comparação revela uma compreensão limitada sobre as duas iniciativas, indicando uma visão superficial das mudanças necessárias para o crescimento sustentável da economia.
O arcabouço fiscal apresentado pelo governo também foi alvo de críticas. Segundo Franco, ele é insuficiente para conter os gastos públicos e não possui a força limitadora dos modelos anteriores. Essa fragilidade reforça uma percepção de descompromisso com a responsabilidade fiscal, o que, segundo ele, não pode ser resolvido com declarações otimistas ou discursos do presidente. Ele também condenou a estratégia de tentar resolver o problema fiscal por meio do aumento de receitas, considerando essa abordagem equivocada e pouco eficaz. Franco classificou o pacote de cortes de gastos anunciado em novembro como um verdadeiro fiasco, que apenas revelou uma mentalidade política ultrapassada, característica da Nova República. Ele argumentou que a ideia de que "salvar a democracia" pode justificar a ausência de uma gestão econômica responsável é extremamente prejudicial ao país.
As críticas de Franco não pouparam o ministro Haddad, a quem acusou de hesitação e busca por soluções pouco ortodoxas. Ele citou como exemplo a discussão da tributação de super-ricos durante uma audiência com o Papa, classificando essa postura como um sinal de fragilidade e falta de seriedade em relação a questões tributárias fundamentais. Para ele, Haddad parece mais interessado em agradar à plateia do que em implementar medidas eficazes. Essa postura, segundo Franco, prejudica ainda mais a credibilidade do governo na condução da economia, especialmente em um momento de grande incerteza.
O artigo de Gustavo Franco evidencia a crescente insatisfação de especialistas e setores do mercado em relação à política econômica do governo Lula. A percepção de que há um distanciamento entre o discurso oficial e a prática real das políticas adotadas é um dos principais fatores que alimentam as críticas. A combinação de gastos elevados, reformas insuficientes e prioridades mal definidas cria um cenário de incerteza que pode afetar negativamente a confiança dos investidores e do mercado de maneira geral.
Enquanto isso, o governo defende que suas políticas são direcionadas ao crescimento econômico e à redução das desigualdades sociais. No entanto, para figuras como Franco, essa abordagem ignora a importância de manter a sustentabilidade fiscal e de evitar retrocessos que possam comprometer os avanços conquistados. O desafio para o governo será encontrar um equilíbrio entre essas metas e a necessidade de demonstrar compromisso com a responsabilidade fiscal, sem o qual será difícil recuperar a confiança de diferentes setores da sociedade e do mercado financeiro.
A condução da política econômica nos próximos meses será crucial para determinar os rumos do governo Lula. Em um cenário global de incertezas, o Brasil precisará apresentar consistência em suas decisões econômicas para evitar maiores instabilidades. As críticas de Gustavo Franco, embora duras, refletem a visão de uma parte significativa de especialistas que esperam mais clareza, coerência e compromisso com as contas públicas. Nesse contexto, a habilidade do governo em ajustar suas políticas e reforçar sua credibilidade será determinante para garantir estabilidade e desenvolvimento.